As Favelas Estão Crescendo: O que Isso de Fato Representa?

Recentemente, foram veiculados na mídia alguns artigos que noticiaram, com um misto de espanto e crítica, o crescimento das favelas e assentamentos informais no Brasil.

No cenário de múltiplas crises que se instaurou no Brasil nos últimos anos, acentuado pela pandemia da Covid-19, assistimos a uma sistemática piora da condição de vida dos brasileiros, com especial impacto nas populações de menor renda, já historicamente vulnerabilizadas por uma estrutura social excludente e preconceituosa. Neste contexto, o crescimento de favelas e assentamentos informais surge como uma consequência visível—e incômoda para muitos—da situação de nosso país.

Apesar disso, a narrativa frequentemente se baseia em um equívoco que é a colocação das favelas, e do seu crescimento, como um problema. Essa visão turva a perspectiva dos leitores e impede que se deem conta do real problema, que é a falta de políticas públicas de acesso à moradia e a piora da condição de vida de milhões de brasileiros nos últimos anos. Assim, no lugar de problema, as favelas e demais assentamentos informais se apresentam como solução. A solução possível para milhares de brasileiros que precisam de um abrigo, de proteção para seu corpo físico contra intempéries e violências e, sobretudo, de dignidade.

Importante ainda dizer que, para além da única solução de moradia possível para milhares de brasileiros, as favelas e outros assentamentos informais já consolidados passam a se constituir em espaço de potência e criatividade únicos, com a construção coletiva de ativos comuns de fundamental importância para a sobrevivência de seus moradores. Portanto, as favelas e assentamentos informais devem ser vistos para além do imaginário dominante da precariedade e de algo que precisa ser consertado—ou mesmo exterminado. Tratam-se de territórios que precisam ser respeitados pelo acúmulo de qualidades, memórias e cultura que trazem em cada uma de suas vielas e construções.

Outro pressuposto equivocado que pode ser frequentemente encontrado na narrativa da mídia sobre o crescimento de favelas e assentamentos informais é a suposta oposição construída entre esse fato e a pauta da preservação ambiental, tão relevante em nosso país. Há a tentativa de construção de um discurso de que as favelas são grandes responsáveis por processos de desmatamento, invadindo áreas de proteção sem que o poder público consiga evitar.

Sem entrar no mérito dos reais responsáveis por processos significativos de desmatamento no Brasil, é importante considerar que o meio ambiente não é constituído apenas da flora e fauna naturais de determinado território. O meio ambiente envolve todos os seres vivos que o habitam e suas necessidades, inclusive o ser humano. Sendo assim, as favelas integram o meio ambiente e interagem com seus elementos naturais muitas vezes de forma mais saudável que o resto das cidades.

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