Atividades, Matérias RioOnWatch Gabriela Buffon Vargas Atividades, Matérias RioOnWatch Gabriela Buffon Vargas

Dados Sobre Água e Luz em Quatro Favelas Lançados em Último Evento do Tipo, Revelando Novamente Desigualdades

No último sábado (24) do mês de fevereiro de 2024, a Rede Favela Sustentável (RFS), e o Painel Unificador das Favelas (PUF), realizou na Galeria Providência, no morro da Providência, região central do centro do Rio de Janeiro, os últimos Lançamentos de Dados do relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação” dos territórios da Providência (Zona Central), PPG (Pavão, Pavãozinho e Cantagalo) (Zona Sul) , do Complexo da Pedreira (Zona Norte) e do Morro dos Macacos (Zona Norte).

Participantes do evento do Lançamento final de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias

No último sábado (24) do mês de fevereiro de 2024, a Rede Favela Sustentável (RFS), e o Painel Unificador das Favelas (PUF), realizou na Galeria Providência, no morro da Providência, região central do centro do Rio de Janeiro, os últimos Lançamentos de Dados do relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação” dos territórios da Providência (Zona Central), PPG (Pavão, Pavãozinho e Cantagalo) (Zona Sul) , do Complexo da Pedreira (Zona Norte) e do Morro dos Macacos (Zona Norte).

Esses lançamentos de dados nas comunidades, fazem parte de uma grande pesquisa realizada por mobilizadores jovens e veteranos de diversas favelas da região metropolitana do Rio de Janeiro, que em seus territórios puderam pesquisar os desafios enfrentado por moradores  no serviço de fornecimento de energia elétrica e de abastecimento de água pelas concessionárias, revelando uma grande desigualdade de acesso a esses serviços. O relatório foi o resultado do curso “Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas”, que foi realizado com o objetivo de desmistificar o processo de coleta e compreensão de dados e garantir o controle na geração cidadã de dados pelos próprios moradores, mirando na  incidência política, a partir da compreensão e debates sobre dos dados coletados.  

Doze dos 30 jovens que participaram da pesquisa do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias

Participaram da pesquisa, 30 jovens e 15 lideranças de 15 favelas espalhadas pelo Grande Rio, entre maio e junho de 2022. As comunidades participantes, no município do Rio de Janeiro foram: Cidade de Deus, Complexo da Pedreira, Itacolomi, Jacarezinho, Morro dos Macacos, PPG (Pavão, Pavãozinho e Cantagalo), Providência, Rio das Pedras e Vila Cruzeiro. Na Baixada Fluminense: Coréia, Cosmorama e Jacutinga em Mesquita; Dique de Vila Alzira em Duque de Caxias; Éden em São João de Meriti; e Engenho em Itaguaí.

Pesquisa feita da favela, para a favela

Quando ocorre a negligência dos poderes públicos com uma grande parte de territórios de uma metrópole como o Rio de Janeiro na realização de pesquisa que forneçam dados para se pensar em políticas públicas, prestação de serviços básicos e outras inclusões sociais que os moradores das favelas necessitam, cabe aos moradores do território, se auto organizarem, para que eles próprios possam fazer esse movimento. Foi a partir dessa premissa que o foco da pesquisa que deu origem ao  relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas” foi pensado e executado. 

Os dados sobre a água, puderam evidenciar que esse direito básico, é um recurso escasso nas favelas, pois, uma parte considerável de população, vem ao longo dos anos sofrendo com problemas que vão desde o abastecimento, qualidade, além de vazamentos, valores altos da conta e não atendimento de questões básicas pelas concessionárias de água.

Relatório de dados de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias 

Os dados sobre energia elétrica, é outro fator bastante problemático, já que, muitos moradores não conseguem ser atendidos pelas empresas concessionárias, e quando os mesmos o são, os casos de valores elevados na conta são relatados com frequência, além, de apagões, picos de luz, queima de equipamentos e falta de energia elétrica por dias. 

Evento de apresentação dos dados para o território contou com a presença de lideranças e jovens que participaram da pesquisa

As atividades do dia se iniciaram com Gisele Moura, coordenadora da equipe de gestão da Rede Favela Sustentável (RFS), apresentando o que foi o projeto:

“Então essa pesquisa foi realizada em 15 favelas onde a gente tem a apresentação das últimas 4, que é: Pedreira, Providência, PPG e Macacos, a apresentação vai ser feita pelos jovens pesquisadores, os mobilizadores estão aqui, e vocês receberam um relatório que dialoga com o que será apresentado aqui.” – Gisele Moura, coordenadora da equipe de gestão da RFS

Da esquerda para direita: Mikael Ângelo, Bruno Tavares, Hugo e Edilma de Carvalho, da Providência, na abertura do lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias

Ela termina a apresentação, sua fala de abertura, chamando os anfitriões do território da Providência, para falarem sobre todo o processo e importância da pesquisa. Hugo, da Galeria Providência fala sobre a importância da pesquisa:

“Eu acho que é um momento extremamente importante para a gente conseguir concluir qualquer processo, e consolidar, fechar um projeto dessa magnitude,  é ainda mais inspirador para outras favelas e para gente, que vem dos ambientes que a gente vem. Eu acho que hoje é um dia muito especial, um marco para nossa vida, ter um material como esse, impresso, que demonstra a qualidade que a gente está pensando sobre geração de dados, para trabalhar cada vez mais as demandas dos nossos territórios, é uma mudança de postura social, de como o Governo os gestores de política pública, vão encarar os representantes do territórios. Historicamente a gente estava sempre lutando com as forças que a gente tinha, mas eu acho que poder lutar dessa forma, traz uma outra postura. Ter informações e dados a respeito do lugar onde a gente mora, tem um fator de dignidade e de respeito que nos coloca em outro lugar.” –  Hugo, Galeria Providência

Edilma de Carvalho, também da Galeria Providência dá as boas vindas de fala sobre a necessidade desse tipo de pesquisa nos territórios de favelas:

“Porque não falarmos de sustentabilidade também como o nosso povo? É preservação da vida humana, é nosso direito também. Não é o poder econômico que pode ditar quem pode viver ou não, por isso estamos avançando, e muito me alegra como educadora, avançar nesse aspecto de de trazer conhecimento, conhecimento que pode sim, ser popularizado, pois, no passado  nós tínhamos  os teóricos, dentro do território nos pesquisando, e por que não nós? O que nos impede? Temos menos inteligência, não! Só precisamos de mais oportunidades!”  – Edilma de Carvalho, Galeria Providência  

Dados sobre o acesso a água e luz revelam uma cidade em que os moradores das favelas não têm acesso a serviços básicos 

Após a abertura, os jovens da RFS que participaram da pesquisa, se apresentaram, dizendo seus nomes e territórios. Matheus Botelho, jovem da Coreia em Mesquita, explicou o contexto geral do curso e da pesquisa, que surgiu da necessidade de capacitar moradores para que eles pudessem pesquisar sua própria comunidade, além de apresentar os relatórios finais  e os sete relatórios específicos por território, onde são que apresentados os dados locais de cada favela ou das favelas agrupadas por regiões.

Matheus Botelho iniciou a apresentação do lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro, falando sobre o projeto e o processo que gerou os relatórios. Foto: Bárbara Dias

Dando sequência à apresentação, os jovens demonstraram como a pesquisa foi realizada, com dados demográficos, e sobre quais aspectos foram analisados, no caso da água foram considerados o acesso, fonte, equipamentos e falta. Os dados das comunidades que estavam apresentando os resultados, Providência, PPG, do Complexo da Pedreira e do Morro dos Macacos, foram então, expostos ao público, que pode comentar sobre os resultados, em relação às suas experiências.

No morro dos Macacos 99% dos entrevistados disseram que possuem água na torneira, já no PPG esse número cai para 84%, com 16% dizendo não receber água direto da torneira, e que água só chega através das “manobras”, que permitem o acesso em apenas em alguns dias da semana. Um morador do PPG, contou sobre sua experiência relatando que inclusive esses serviços pioraram bastante, com a privatização da CEDAE pela concessionária Águas do Rio

“A gente percebeu que houve um grande problema de abastecimento, com aumento de desperdício, pois o material que a Águas do Rio utiliza é um material de baixa qualidade e muitos casos a gente percebeu que além do  desperdício, a falta de água, e talvez esse numero ai até tenta aumentado. Eu por exemplo eu já fiquei sem água por causa da dificuldade de abastecimento das Águas do Rio.”  – João Victor Teodoro do MUF / PPG Social

Letícia, moradora da Providência faz uma fala contando sua experiência com a falta de água na sua casa, durante o lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias

Letícia, moradora da Providência, outro território, deu seu relato sobre a piora na situação da entrega de água em sua residência: 

“A água é zero, pra gente ter acesso a água a gente acorda de madrugada, pra encher tudo que é vasilha, lavar louça, lavar roupa, Quando dá seis e pouca da manhã já não tem mais água. Tem que ficar sentada lá, [...] A gente arruma nossos filhos para ir para escola, não tem água na escola… Aí a gente tem que arrumar alguém para olhar as crianças e correr atrás do trabalho, para fazer as coisas do dia-a-dia, depois que entrou a nova empresa, não temos mais água.” – Letícia, Galeria Providência. 

Outros moradores seguiram relatando que o acesso a água piorou muito com a nova empresa, com ineficiência de distribuição, inclusive nas partes baixas das favelas, situação que não ocorria anteriormente. Houveram relatos também de aumentos nas contas de água e cobranças indevidas, por parte de alguns moradores. 

Os dados relacionados ao acesso de luz, qualidade da luz e eficiência da luz, apresentados, também não são muito diferentes, e ainda revelam um dado ainda mais alarmante, que 56% dos entrevistados vivem em situação de pobreza energética, ou seja, que suas contas de luz consome mais de 10% da renda familiar mensal, o recomendado é que o valor não ultrapasse 7%. Desses que vivem em pobreza energética 69% informaram que se não gastassem tanto com a conta, eles gastariam mais com alimentos, caso suas contas de luz fossem reduzidas.

Sobre os dados pesquisados sobre energia elétrica, o jovem Matheus Edson, do Rio das Pedras, explica que foram pesquisados o acesso, a fonte, os equipamentos e os preços das contas. O Jovem Mikael Angelo Lopes, da providência, explica que na providência a pesquisa demonstrou que 99% possui acesso a energia elétrica, porém alguns moradores presentes, pontuaram que em algumas áreas da favela as pessoas não têm acesso à luz ou o fornecimento é intermitente. 

“Na parte alta na ‘toca’ tem moradores que estão a uma semana sem luz, a nossa luz ontem mesmo ela passou indo e vindo, nem a lâmpada sustentava acessa, imagina sem um ventilador nesse calor. Eu tenho três crianças pequenas em casa e a gente não consegue dormir. Consequentemente, no dia seguinte está todo mundo cansado, tem que ir para escola, eu preciso trabalhar, meu marido precisa ir trabalhar, o dia não rende, infelizmente está sendo assim, agrava muito mais no verão.”  – Viviane, Galeria Providência 

Viviane, moradora da Providência faz uma fala contando sua experiência com a falta de energia na sua casa, durante o lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias

Esses relatos são muito frequentes, a mesma moradora informou que tem mais de dois anos que um poste está quase caindo em cima de uma residência. Segundo os moradores, a empresa concessionária Light tem um procedimento recorrente de negar atendimento em determinadas áreas da comunidade, por ser considerado “área de risco”. 

 “O problema não é pagar, se a gente tiver um serviço de qualidade, o problema não é pagar, é ter um serviço. Se as pessoas vão para o gato, é porque o poste não chega até a gente, a luz não chega até a gente, o relógio não chega até a gente.” – Viviane  SOBRENOME Galeria Providência 

Cobranças abusivas são também, sempre relatadas pelos moradores:

“Eu moro mais pra baixo e a minha conta de luz eu tenho, uma geladeira, um ventilador, dois ventiladores de teto , e a gente está sempre se policiando, por que a questão do consumo, você não está num lugar você apaga, a gente a minha conta de luz é R$ 470,00 reais e a  gente faz como, se você não paga eles vem e corta. Eu não tenho ar condicionado, quem tem paga R$: 800,00 a R$: 1000,00.” – Ednalda Oliveira, Galeria Providência 

Essa fala evidencia os dados pesquisados que se referem a pobreza energética, de uma cobrança muito alta pela concessionária de energia. 

Com a finalização da apresentação dos dados, as lideranças das favelas pesquisadas apresentaram, as propostas dentre elas a criação de um programa de postos comunitários de água e luz, com atendimento local nas comunidades, auxílios financeiros para aquisição de bombas de águas, trocas de eletrodomésticos e lâmpadas mais econômicas, e cadastramento de bombeiros e eletricistas locais,além da criação de taxas populares para a de conta de luz. 

E o que fazer com esses dados? Lembranças de um passado e apontamentos para ações futuras 

Num segundo momento, os participantes da atividade foram convidados a se dividirem em dois grupos, para a  partir dos dados, pensarem em propostas de resolução dos problemas apontados pela pesquisa e incidência política junto ao  poder público, pensando como eram as questões relacionadas a água e luz, nu recorte de passado, presente e futuro. Foi um momento de construção coletiva, onde moradores das comunidades da Providência, PPG, Pedreira e Macacos puderam dialogar entre si, chegando a consensos e a propostas para ações futuras. 

Jovens da Providência,  Mikael Ângelo, Bruno Tavares,  anotam as contribuições dos moradores no quadro, durante o evento de  lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias

Os jovens da Providência puderam anotar as contribuições num quadro, organizando as ideias dos participantes. Os moradores mais antigos, das favelas lembraram as dificuldades de não ter energia elétrica e da necessidade de usar lamparinas e lampiões, no caso da dificuldade de acesso à energia elétrica, e no caso da água coleta de água da chuva e busca por fontes. Otávio Barros, do Vale Encantado deu seu depoimento:

“A água vinha das nascentes em bambus gigantes, por uma calha, que levava a água para os tanques onde lavadeiras, lavavam as roupas, e tinham os boxes com chuveiros onde as pessoas tomavam banhos, por essa calha feita de bambu. E o banheiro era um buraco no chão, não tinha vaso sanitário.” – Otávio Barros, Vale Encantado 

No Grupo do PPG, houve também a escuta dos moradores da comunidade e de outros territórios também, Flavinha Concecio  do Complexo da Pedreira, fez um relato das dificuldades das favelas do subúrbio, para enfrentar situações relacionadas às questões de água e luz, do descaso do poder público na resolução de problemas, ela citou o exemplo das últimas enchentes que aconteceram na Zona Norte e Baixada Fluminense

“O rio de Acari enche, aquela parte de baixo Fazenda Botafogo,  do Complexo da Pedreira, toda aquela região ali, enche tudo. E a gente fica uma semana, 15 dias, 30 dias… Tem moradores que estão desde a enchente sem água, estão recebendo doações de água mineral. Tem moradores que estão sem luz. [...] Pra gente que é finalzinho da Zona Norte, do subúrbio e da Baixada a gente sofre essas precariedades diretas, [é difícil] de conseguir uma solução.” – Flavinha Concecio, Complexo da Pedreira 

Favelas elaborando soluções para seus desafios nos seus territórios

Na parte final do evento de lançamento dos dados do territórios da Providência, PPG, Complexo da Pedreira e do Morro dos Macacos, algumas lideranças que desenvolvem projetos de impacto social e ambiental em seus territórios, foram chamadas a darem seus depoimentos, para os presentes, numa troca de experiências bem interessante. 

Na parte final do evento de  lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro, os participantes puderam ouvir relatos de experiências bem sucedidas em favelas. Foto: Bárbara Dias

Foram chamados a dar seus depoimentos Luis Cassiano, morador do Parque Arará e criador desenvolvedor do projeto Teto Verde Favela, que trabalha com eficiência energética  criando telhados verdes em sua comunidade e sua capacidade de reduzir temperaturas; Otávio Barros, do Vale Encantado que inovou ao criar um biossistema para tratamento de esgoto em seu território; e André Leonardo e Luiz Carlos do Morro da Formiga, que fazem um trabalho centenário de preservação das águas em suas comunidades. 

Luis Cassiano, explica que sua comunidade é um local extremamente quente, pois faltam áreas verdes, e que procurando soluções para essa questão, ele descobriu, pesquisou e criou uma técnica de um telhado verde adaptado à realidade da favela, para redução de temperatura e do consumo de energia elétrica: 

“Essa técnica que eu consegui desenvolver, é uma técnica leve que eu consigo colocar ela em cima de uma telha de fibrocimento, de uma tela de zinco, de uma telha que é usada nas favelas, é uma técnica que é possível. [...] A gente usa o bidim, que é um gel geotêxtil, onde as plantas vão enraizar ai em cima”  – Luis Cassiano, Teto Verde Favela 

Luis Cassiano demonstra como funciona o Teto Verde no evento de  lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro, no fim do dia os participantes puderam ouvir relatos de experiências bem sucedidas em favelas. Foto: Bárbara Dias

E ele faz a demonstração, numa maquete de uma casinha, para demonstrar a todos os presentes as plantas que são indicadas ao teto verde, principalmente aquelas que suportam a temperatura alta. 

Otávio Barros, do Vale Encantado, contou a sua experiência de como a comunidade conseguiu construir um  biossistema de saneamento ecológico, para resolver a questão do lançamento de esgoto nos corpos hídricos do território

“Eu juntei a comunidade, fizemos o projeto, e ai usando a mão de obra de comunidade, compramos o material, fizemos toda a canalização da comunidade que jogava dentro do rio, desviou por dentro da comunidade, coletando todo o esgoto e levou para a estação de tratamento, como a comunidade é íngreme, ia tudo por gravidade. na hora do tratamento de esgoto e do descarte. A gente criou uma cúpula onde o material orgânico, vai para esse compartimento, decanta e a água cinza sai em outro compartilhamento, e vai pra uns tanques que filtram o esgoto.” – Otávio Barros, do Vale Encantado

O dia de atividades da RFS se encerra com André Leonardo e Luiz Carlos do Morro da Formiga,  que fazem um trabalho centenário de preservação das águas em suas comunidades, mantido por uma equipe do mutirão de reflorestamento:

“O arco verde que envolve o formiga verde onde hoje tem árvores, era só capim colonião, chegava o verão tinham queimadas, hoje a formiga tem muito verde, muitos animais que aparecem lá, muita água também, por conta desse reflorestamento, mas já tinha essa água historicamente, tá só mantendo agora, né.” – André Leonardo do projeto formiga verde 

O dia de atividades da RFS se encerrou com histórias que apontam caminhos que levam a auto organização popular e comunitária como uma possibilidade das favelas de lidarem de forma criativa e autônoma, com seus desafios, na elaboração de projetos que visam diminuir os impactos causados pelas enormes desigualdades hídricas e energéticas que enfrentam seus moradores. Porém, não deixa de lado também a possibilidade de, a partir desses dados levantados pela pesquisa em 15 favelas, das comunidades se organizarem cada vez mais, para pressionar o poder público, a criação de políticas que também possam ser aplicadas na favela. 

Leia mais
Atividades, Matérias RioOnWatch Gabriela Buffon Vargas Atividades, Matérias RioOnWatch Gabriela Buffon Vargas

Encontro das Águas na Cidade de Deus: Projeto Eco Rede Fortalece Identidade e Resgata Memória dos Rios da Comunidade

Rio Grande visto da ponte nova, na Cidade de Deus. Ao fundo, vê-se o Maciço da Tijuca. Foto: Gabrielle Conceição

Esta é a matéria final de uma série sobre justiça hídrica nas favelas escrita por jovens moradores de favela e resultado do curso “Justiça Climática no Jornalismo Comunitário: Da Construção da Pauta à Redação da Notícia”. O curso, realizado pela equipe do RioOnWatch, em parceria com o GT Jovem da Rede Favela Sustentável (RFS), aconteceu nos meses de julho-setembro de 2023. Ela também faz parte de uma série gerada por uma parceria com o Digital Brazil Project do Centro Behner Stiefel de Estudos Brasileiros da Universidade Estadual de San Diego na Califórnia, para produzir matérias sobre justiça ambiental nas favelas fluminenses.

Rio Grande visto da ponte nova, na Cidade de Deus. Ao fundo, vê-se o Maciço da Tijuca. Foto: Gabrielle Conceição

A primeira enchente que marcou a história da Cidade de Deus (CDD), na Zona Oeste do Rio de Janeiro, foi a do ano de 1966, que afetou toda a cidade. Neste ano, a marca que a enchente deixou foi do crescimento repentino da nova comunidade ao receber os atingidos das enchentes em outras favelas. Temos em nossa raiz a memória de sermos resultado da desapropriação de outras favelas para a Cidade de Deus, que teve sua fundação antecipada e justificada para abrigar essas pessoas em 1966.

No entanto, esta não seria a única enchente a marcar a história do território. A Cidade de Deus e, a região do entorno, de Jacarepaguá, AP 4, é uma área propícia a alagamentos, delimitada pelo Maciço da Pedra Branca, Maciço da Tijuca e o Oceano Atlântico, com uma rede intensa de sub-bacias hidrográficas. A CDD está na planície de inundação do Rio Grande, o que significa dizer, que desde seu planejamento, parte de um conjunto habitacional público, estaria exposto a alagamentos.

Leia mais
Atividades, Matérias RioOnWatch Gabriela Buffon Vargas Atividades, Matérias RioOnWatch Gabriela Buffon Vargas

Os Contrastes Gritam na Baixada Fluminense: Os Caminhos do Rio Dona Eugênia e a Favela da Coreia, na Cidade de Mesquita

Represa Epaminondas Ramos do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. O Parque possui dois acessos, pelo Caonze, em Nova Iguaçu ou pela Coreia, em Mesquita. Foto: Flávio Bravim

Esta é a terceira matéria de uma série sobre justiça hídrica nas favelas escrita por jovens moradores de favela e resultado do curso “Justiça Climática no Jornalismo Comunitário: Da Construção da Pauta à Redação da Notícia”. O curso, realizado pela equipe do RioOnWatch, em parceria com o GT Jovem da Rede Favela Sustentável (RFS), aconteceu nos meses de julho-setembro de 2023.

Represa Epaminondas Ramos do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. O Parque possui dois acessos, pelo Caonze, em Nova Iguaçu ou pela Coreia, em Mesquita. Foto: Flávio Bravim

A Favela da Coreia, localizada na cidade de Mesquita, na Baixada Fluminense, é uma das maiores da região. Ela faz divisa com vários bairros da cidade e com o município vizinho de Nova Iguaçu. Uma área de grande densidade populacional e urbana, mas de imensa riqueza natural, com florestas e rios.

Parte inseparável da história e da paisagem da Favela da Coreia, o Rio Dona Eugênia corta o território e marca a vida dos moradores. Ele já foi utilizado pela população local para brincadeiras, afazeres domésticos, como lavar roupa, cozinhar e lavar a louça e, até mesmo, para beber. No entanto, com o passar dos anos, a negligência do Estado em implementar políticas de moradia, esgotamento e coleta de resíduos sólidos está matando trechos inteiros deste rio, o que já está impactando a vida dos moradores da Coreia.

Leia mais
Atividades, Matérias RioOnWatch Gabriela Buffon Vargas Atividades, Matérias RioOnWatch Gabriela Buffon Vargas

Em Terceira Maior Favela do Brasil, Rio das Pedras, Oscilações da Maré e Mudanças Climáticas Aumentam Alagamentos de Esgoto

Aos pés do Maciço da Tijuca, a paisagem da localidade do Areal 1, em Rio das Pedras. Foto: Matheus Edson Rodrigues

Esta é a segunda matéria de uma série sobre justiça hídrica nas favelas escrita por jovens moradores de favela e resultado do curso “Justiça Climática no Jornalismo Comunitário: Da Construção da Pauta à Redação da Notícia”. O curso, realizado pela equipe do RioOnWatch, em parceria com o GT Jovem da Rede Favela Sustentável (RFS), aconteceu nos meses de julho-setembro de 2023.

Aos pés do Maciço da Tijuca, a paisagem da localidade do Areal 1, em Rio das Pedras. Foto: Matheus Edson Rodrigues

Rio das Pedras está localizada na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, entre os bairros de Jacarepaguá e Itanhangá, em uma área geográfica na cidade que é suscetível a inundações, tendo como delimitação, ao norte, o Maciço da Tijuca e, ao sul, a Lagoa da Tijuca. É possível identificar, no Mapa de Suscetibilidade a Inundações na Favela de Rio das Pedras, que a favela se expandiu rapidamente, se espraiando para extensas áreas da região da Baixada de Jacarepaguá, mais especificamente da Bacia do Rio das Pedras. Ao chegarem às margens do Rio das Pedras, os novos moradores, sobretudo migrantes que vieram trabalhar na Barra da Tijuca, construíram suas casas de maneiras diversas para atender suas necessidades. A favela cresceu muito e rapidamente, tanto de maneira vertical, quanto horizontal, tanto a montante, quanto a jusante do rio principal. Esse padrão de urbanização ocasionou diferentes problemas, além de potencializar o risco de enchentes.

Rio das Pedras sofreu diferentes mudanças espaciais durante sua urbanização que, somadas ao avançar das mudanças climáticas, tornam alguns eventos ambientais mais frequentes e destrutivos. As oscilações da maré têm atingido níveis mais altos do que antes. Além disso, essa água insalubre inunda áreas impermeabilizadas por asfalto e cimento, impossibilitando o escoamento e infiltração no solo. Sendo assim, esses locais também ficam alagados por mais tempo do que antes.

Leia mais
Atividades, Matérias RioOnWatch Gabriela Buffon Vargas Atividades, Matérias RioOnWatch Gabriela Buffon Vargas

Justiça Hídrica na Rocinha: Falta D’Água Crônica como Bandeira da População

Caixas d’água nas lajes das casas na Rocinha. Foto: Karen Fontoura

Esta é a primeira matéria de uma série sobre justiça hídrica nas favelas escrita por jovens moradores de favela e resultado do curso “Justiça Climática no Jornalismo Comunitário: Da Construção da Pauta à Redação da Notícia”. O curso, realizado pela equipe do RioOnWatch, em parceria com o GT Jovem da Rede Favela Sustentável (RFS), aconteceu nos meses de julho-setembro de 2023.

Caixas d’água nas lajes das casas na Rocinha. Foto: Karen Fontoura

Parte da paisagem, a caixa d’água é peça fundamental na estrutura de qualquer casa ou edifício do Rio de Janeiro, representando a dura realidade frequente da falta d’água na cidade. Assim como outros territórios de favela, a maior favela da cidade, a Rocinha, na Zona Sul, enfrenta há décadas dificuldades ainda maiores com relação à água, em todas as localidades da favela, uma luta antiga na vida de seus moradores.

As divergências dos dados históricos em relação ao número de habitantes de fato na comunidade sempre interferiu na criação de políticas públicas capazes de promover a qualidade de vida dos moradores. Por exemplo, a quantidade de água disponível nos reservatórios atualmente, com base nos dados do IBGE de 2010, já na época insuficientes, de 70.000 moradores, daria a cada morador, em média, 31,5 litros diários. Se considerado o dado populacional de 122.000 habitantes do programa Comunidade Cidade, o consumo atual cai para apenas 18 litros por morador.

Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cada pessoa necessita de entre 50 e 100 litros de água por dia para suas necessidades básicas de consumo e higiene. A quantidade insuficiente disponível para os moradores da Rocinha evidencia a negligência do Estado em garantir o recurso mais básico, a água, para os moradores da maior favela da cidade.

Leia mais