Favela no Centro das Soluções: Retrospectiva 2024 da Rede Favela Sustentável
Vídeo 2024
2024 foi um ano de conquistas e marcos históricos para a Rede Favela Sustentável!
Completamos o ciclo de 10 Rodas de Memória Climática das Favelas e finalizamos as apresentações locais de dados sobre justiça hídrica e energética em 15 territórios. Esse trabalho culminou em um momento marcante: a presença da Comitiva da RFS Rumo a Brasília pela Energia Justa.
Durante a Semana da Energia, nossas vozes ecoaram em defesa de uma transição energética justa, colocando as favelas no centro das decisões nacionais sobre sustentabilidade e justiça climática. Outro grande destaque foi o 1o Festival Favela Sustentável: Favela no Centro das Soluções, uma celebração inédita do protagonismo das favelas. Com feiras, oficinas, apresentações culturais e atividades gratuitas, o festival mostrou que as favelas produz diversas soluções para um futuro sustentável.
Além disso, 2024 contou com iniciativas como a série de matérias sobre os rios de favelas, oficina de audiovisual para o GT Jovem da RFS, e a sistematização do eixo de soberania alimentar, tivemos destaque na mídia nacional e internacional e nos conectamos com diversos novos parceiros institucionais, nos engajando em eventos importantes, como o 13° Filmambiente, LivMundi e o lançamento da publicação Soluções Baseadas na Natureza nas Periferias.
Assista à nossa retrospectiva de 2024 e reviva esses momentos únicos que marcaram este ano!
This World Water Week, Discover Insights from Four Favelas Facing Growing Water and Electricity Challenges, at the Final Launch of the ‘Water and Energy Justice in Favelas’ Report
March 18, 2024—Last month, communities affiliated with the Sustainable Favela Network (SFN)* and the Favelas Unified Dashboard (PUF)* held the final local data launch from the report “Water and Energy Justice in the Favelas: Community Researchers Gather Data Revealing Inequalities and Calling for Action” at Galeria Providência.
Participants of the final data launch event of the Water and Energy Justice report in Rio de Janeiro favelas. Photo: Bárbara Dias
Data on Water and Electricity in Four Favelas, Launched at Final Event of its Kind
The local data launches of the report “Water and Energy Justice in the Favelas: Community Researchers Gather Data Revealing Inequalities and Calling for Action” held throughout 2023-2024 in the 15 communities that were surveyed by the Sustainable Favela Network, go against the grain of what typically happens once data are collected. Instead of focusing immediately on presenting the research to government officials and decision-makers, or storing it in libraries and archives, the focus was on returning to the communities surveyed, debating the results, enhancing knowledge, and strengthening access to information for the local population, so that together residents can come together, informed, to advocate for their rights.
The launches were moments of intense exchange between young researchers, community leaders, and residents, with the final event on February 24 launching local data to residents of Providência, PPG, Macacos, and Pedreira favelas, with several other communities also present. In their communities, young researchers identified the challenges faced by residents regarding water and electricity provision by private utilities Águas do Rio (water) and Light (electricity), revealing an alarming lack of quality access to these services. Testimonials at the launch event made it clear that there has been a deterioration in services rendered since the research was conducted in 2022, with particular emphasis on water access and quality.
Twelve of the 30 youth that carried out research for the report “Water and Energy Justice in the Favelas” of Greater Rio. Photo: Bárbara Dias
Research By and For the Favelas
When government neglects its responsibility to conduct research that is needed to inform the provision of basic services, who is left to do the work? In yet another domain, it is the “by us for us” approach that offers the only way out for favela residents. It is up to residents themselves to self-organize and generate their own research. This is how the report “Water and Energy Justice in the Favelas” came about.
“Historically, we fought with the resources we had, but I think that being able to fight in this manner [with data] gives us a different advantage. Having information and data about the place where we live adds a factor of dignity and respect that puts us in a different light [when fighting for rights].” – Hugo Oliveira, Galeria Providência
The data from the report, in general, reveal that water is more scarce in Rio’s favelas than previously understood, relying on pumps and water tanks to ensure access. The data on electricity is equally concerning in the context of climate change, especially when accessing water requires electricity. Among other issues, many residents are not served by Light, the electric utility, and when they are, cases of abusive billing are frequently reported, along with blackouts, power surges, equipment damage, and days-long power outages.
The report provides insights into water and energy justice in the favelas of Rio de Janeiro. Photo: Bárbara Dias
Dados Sobre Água e Luz em Quatro Favelas Lançados em Último Evento do Tipo, Revelando Novamente Desigualdades
No último sábado (24) do mês de fevereiro de 2024, a Rede Favela Sustentável (RFS), e o Painel Unificador das Favelas (PUF), realizou na Galeria Providência, no morro da Providência, região central do centro do Rio de Janeiro, os últimos Lançamentos de Dados do relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação” dos territórios da Providência (Zona Central), PPG (Pavão, Pavãozinho e Cantagalo) (Zona Sul) , do Complexo da Pedreira (Zona Norte) e do Morro dos Macacos (Zona Norte).
Participantes do evento do Lançamento final de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias
No último sábado (24) do mês de fevereiro de 2024, a Rede Favela Sustentável (RFS), e o Painel Unificador das Favelas (PUF), realizou na Galeria Providência, no morro da Providência, região central do centro do Rio de Janeiro, os últimos Lançamentos de Dados do relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação” dos territórios da Providência (Zona Central), PPG (Pavão, Pavãozinho e Cantagalo) (Zona Sul) , do Complexo da Pedreira (Zona Norte) e do Morro dos Macacos (Zona Norte).
Esses lançamentos de dados nas comunidades, fazem parte de uma grande pesquisa realizada por mobilizadores jovens e veteranos de diversas favelas da região metropolitana do Rio de Janeiro, que em seus territórios puderam pesquisar os desafios enfrentado por moradores no serviço de fornecimento de energia elétrica e de abastecimento de água pelas concessionárias, revelando uma grande desigualdade de acesso a esses serviços. O relatório foi o resultado do curso “Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas”, que foi realizado com o objetivo de desmistificar o processo de coleta e compreensão de dados e garantir o controle na geração cidadã de dados pelos próprios moradores, mirando na incidência política, a partir da compreensão e debates sobre dos dados coletados.
Doze dos 30 jovens que participaram da pesquisa do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias
Participaram da pesquisa, 30 jovens e 15 lideranças de 15 favelas espalhadas pelo Grande Rio, entre maio e junho de 2022. As comunidades participantes, no município do Rio de Janeiro foram: Cidade de Deus, Complexo da Pedreira, Itacolomi, Jacarezinho, Morro dos Macacos, PPG (Pavão, Pavãozinho e Cantagalo), Providência, Rio das Pedras e Vila Cruzeiro. Na Baixada Fluminense: Coréia, Cosmorama e Jacutinga em Mesquita; Dique de Vila Alzira em Duque de Caxias; Éden em São João de Meriti; e Engenho em Itaguaí.
Pesquisa feita da favela, para a favela
Quando ocorre a negligência dos poderes públicos com uma grande parte de territórios de uma metrópole como o Rio de Janeiro na realização de pesquisa que forneçam dados para se pensar em políticas públicas, prestação de serviços básicos e outras inclusões sociais que os moradores das favelas necessitam, cabe aos moradores do território, se auto organizarem, para que eles próprios possam fazer esse movimento. Foi a partir dessa premissa que o foco da pesquisa que deu origem ao relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas” foi pensado e executado.
Os dados sobre a água, puderam evidenciar que esse direito básico, é um recurso escasso nas favelas, pois, uma parte considerável de população, vem ao longo dos anos sofrendo com problemas que vão desde o abastecimento, qualidade, além de vazamentos, valores altos da conta e não atendimento de questões básicas pelas concessionárias de água.
Relatório de dados de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias
Os dados sobre energia elétrica, é outro fator bastante problemático, já que, muitos moradores não conseguem ser atendidos pelas empresas concessionárias, e quando os mesmos o são, os casos de valores elevados na conta são relatados com frequência, além, de apagões, picos de luz, queima de equipamentos e falta de energia elétrica por dias.
Evento de apresentação dos dados para o território contou com a presença de lideranças e jovens que participaram da pesquisa
As atividades do dia se iniciaram com Gisele Moura, coordenadora da equipe de gestão da Rede Favela Sustentável (RFS), apresentando o que foi o projeto:
“Então essa pesquisa foi realizada em 15 favelas onde a gente tem a apresentação das últimas 4, que é: Pedreira, Providência, PPG e Macacos, a apresentação vai ser feita pelos jovens pesquisadores, os mobilizadores estão aqui, e vocês receberam um relatório que dialoga com o que será apresentado aqui.” – Gisele Moura, coordenadora da equipe de gestão da RFS
Da esquerda para direita: Mikael Ângelo, Bruno Tavares, Hugo e Edilma de Carvalho, da Providência, na abertura do lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias
Ela termina a apresentação, sua fala de abertura, chamando os anfitriões do território da Providência, para falarem sobre todo o processo e importância da pesquisa. Hugo, da Galeria Providência fala sobre a importância da pesquisa:
“Eu acho que é um momento extremamente importante para a gente conseguir concluir qualquer processo, e consolidar, fechar um projeto dessa magnitude, é ainda mais inspirador para outras favelas e para gente, que vem dos ambientes que a gente vem. Eu acho que hoje é um dia muito especial, um marco para nossa vida, ter um material como esse, impresso, que demonstra a qualidade que a gente está pensando sobre geração de dados, para trabalhar cada vez mais as demandas dos nossos territórios, é uma mudança de postura social, de como o Governo os gestores de política pública, vão encarar os representantes do territórios. Historicamente a gente estava sempre lutando com as forças que a gente tinha, mas eu acho que poder lutar dessa forma, traz uma outra postura. Ter informações e dados a respeito do lugar onde a gente mora, tem um fator de dignidade e de respeito que nos coloca em outro lugar.” – Hugo, Galeria Providência
Edilma de Carvalho, também da Galeria Providência dá as boas vindas de fala sobre a necessidade desse tipo de pesquisa nos territórios de favelas:
“Porque não falarmos de sustentabilidade também como o nosso povo? É preservação da vida humana, é nosso direito também. Não é o poder econômico que pode ditar quem pode viver ou não, por isso estamos avançando, e muito me alegra como educadora, avançar nesse aspecto de de trazer conhecimento, conhecimento que pode sim, ser popularizado, pois, no passado nós tínhamos os teóricos, dentro do território nos pesquisando, e por que não nós? O que nos impede? Temos menos inteligência, não! Só precisamos de mais oportunidades!” – Edilma de Carvalho, Galeria Providência
Dados sobre o acesso a água e luz revelam uma cidade em que os moradores das favelas não têm acesso a serviços básicos
Após a abertura, os jovens da RFS que participaram da pesquisa, se apresentaram, dizendo seus nomes e territórios. Matheus Botelho, jovem da Coreia em Mesquita, explicou o contexto geral do curso e da pesquisa, que surgiu da necessidade de capacitar moradores para que eles pudessem pesquisar sua própria comunidade, além de apresentar os relatórios finais e os sete relatórios específicos por território, onde são que apresentados os dados locais de cada favela ou das favelas agrupadas por regiões.
Matheus Botelho iniciou a apresentação do lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro, falando sobre o projeto e o processo que gerou os relatórios. Foto: Bárbara Dias
Dando sequência à apresentação, os jovens demonstraram como a pesquisa foi realizada, com dados demográficos, e sobre quais aspectos foram analisados, no caso da água foram considerados o acesso, fonte, equipamentos e falta. Os dados das comunidades que estavam apresentando os resultados, Providência, PPG, do Complexo da Pedreira e do Morro dos Macacos, foram então, expostos ao público, que pode comentar sobre os resultados, em relação às suas experiências.
No morro dos Macacos 99% dos entrevistados disseram que possuem água na torneira, já no PPG esse número cai para 84%, com 16% dizendo não receber água direto da torneira, e que água só chega através das “manobras”, que permitem o acesso em apenas em alguns dias da semana. Um morador do PPG, contou sobre sua experiência relatando que inclusive esses serviços pioraram bastante, com a privatização da CEDAE pela concessionária Águas do Rio:
“A gente percebeu que houve um grande problema de abastecimento, com aumento de desperdício, pois o material que a Águas do Rio utiliza é um material de baixa qualidade e muitos casos a gente percebeu que além do desperdício, a falta de água, e talvez esse numero ai até tenta aumentado. Eu por exemplo eu já fiquei sem água por causa da dificuldade de abastecimento das Águas do Rio.” – João Victor Teodoro do MUF / PPG Social
Letícia, moradora da Providência faz uma fala contando sua experiência com a falta de água na sua casa, durante o lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias
Letícia, moradora da Providência, outro território, deu seu relato sobre a piora na situação da entrega de água em sua residência:
“A água é zero, pra gente ter acesso a água a gente acorda de madrugada, pra encher tudo que é vasilha, lavar louça, lavar roupa, Quando dá seis e pouca da manhã já não tem mais água. Tem que ficar sentada lá, [...] A gente arruma nossos filhos para ir para escola, não tem água na escola… Aí a gente tem que arrumar alguém para olhar as crianças e correr atrás do trabalho, para fazer as coisas do dia-a-dia, depois que entrou a nova empresa, não temos mais água.” – Letícia, Galeria Providência.
Outros moradores seguiram relatando que o acesso a água piorou muito com a nova empresa, com ineficiência de distribuição, inclusive nas partes baixas das favelas, situação que não ocorria anteriormente. Houveram relatos também de aumentos nas contas de água e cobranças indevidas, por parte de alguns moradores.
Os dados relacionados ao acesso de luz, qualidade da luz e eficiência da luz, apresentados, também não são muito diferentes, e ainda revelam um dado ainda mais alarmante, que 56% dos entrevistados vivem em situação de pobreza energética, ou seja, que suas contas de luz consome mais de 10% da renda familiar mensal, o recomendado é que o valor não ultrapasse 7%. Desses que vivem em pobreza energética 69% informaram que se não gastassem tanto com a conta, eles gastariam mais com alimentos, caso suas contas de luz fossem reduzidas.
Sobre os dados pesquisados sobre energia elétrica, o jovem Matheus Edson, do Rio das Pedras, explica que foram pesquisados o acesso, a fonte, os equipamentos e os preços das contas. O Jovem Mikael Angelo Lopes, da providência, explica que na providência a pesquisa demonstrou que 99% possui acesso a energia elétrica, porém alguns moradores presentes, pontuaram que em algumas áreas da favela as pessoas não têm acesso à luz ou o fornecimento é intermitente.
“Na parte alta na ‘toca’ tem moradores que estão a uma semana sem luz, a nossa luz ontem mesmo ela passou indo e vindo, nem a lâmpada sustentava acessa, imagina sem um ventilador nesse calor. Eu tenho três crianças pequenas em casa e a gente não consegue dormir. Consequentemente, no dia seguinte está todo mundo cansado, tem que ir para escola, eu preciso trabalhar, meu marido precisa ir trabalhar, o dia não rende, infelizmente está sendo assim, agrava muito mais no verão.” – Viviane, Galeria Providência
Viviane, moradora da Providência faz uma fala contando sua experiência com a falta de energia na sua casa, durante o lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias
Esses relatos são muito frequentes, a mesma moradora informou que tem mais de dois anos que um poste está quase caindo em cima de uma residência. Segundo os moradores, a empresa concessionária Light tem um procedimento recorrente de negar atendimento em determinadas áreas da comunidade, por ser considerado “área de risco”.
“O problema não é pagar, se a gente tiver um serviço de qualidade, o problema não é pagar, é ter um serviço. Se as pessoas vão para o gato, é porque o poste não chega até a gente, a luz não chega até a gente, o relógio não chega até a gente.” – Viviane SOBRENOME Galeria Providência
Cobranças abusivas são também, sempre relatadas pelos moradores:
“Eu moro mais pra baixo e a minha conta de luz eu tenho, uma geladeira, um ventilador, dois ventiladores de teto , e a gente está sempre se policiando, por que a questão do consumo, você não está num lugar você apaga, a gente a minha conta de luz é R$ 470,00 reais e a gente faz como, se você não paga eles vem e corta. Eu não tenho ar condicionado, quem tem paga R$: 800,00 a R$: 1000,00.” – Ednalda Oliveira, Galeria Providência
Essa fala evidencia os dados pesquisados que se referem a pobreza energética, de uma cobrança muito alta pela concessionária de energia.
Com a finalização da apresentação dos dados, as lideranças das favelas pesquisadas apresentaram, as propostas dentre elas a criação de um programa de postos comunitários de água e luz, com atendimento local nas comunidades, auxílios financeiros para aquisição de bombas de águas, trocas de eletrodomésticos e lâmpadas mais econômicas, e cadastramento de bombeiros e eletricistas locais,além da criação de taxas populares para a de conta de luz.
E o que fazer com esses dados? Lembranças de um passado e apontamentos para ações futuras
Num segundo momento, os participantes da atividade foram convidados a se dividirem em dois grupos, para a partir dos dados, pensarem em propostas de resolução dos problemas apontados pela pesquisa e incidência política junto ao poder público, pensando como eram as questões relacionadas a água e luz, nu recorte de passado, presente e futuro. Foi um momento de construção coletiva, onde moradores das comunidades da Providência, PPG, Pedreira e Macacos puderam dialogar entre si, chegando a consensos e a propostas para ações futuras.
Jovens da Providência, Mikael Ângelo, Bruno Tavares, anotam as contribuições dos moradores no quadro, durante o evento de lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro. Foto: Bárbara Dias
Os jovens da Providência puderam anotar as contribuições num quadro, organizando as ideias dos participantes. Os moradores mais antigos, das favelas lembraram as dificuldades de não ter energia elétrica e da necessidade de usar lamparinas e lampiões, no caso da dificuldade de acesso à energia elétrica, e no caso da água coleta de água da chuva e busca por fontes. Otávio Barros, do Vale Encantado deu seu depoimento:
“A água vinha das nascentes em bambus gigantes, por uma calha, que levava a água para os tanques onde lavadeiras, lavavam as roupas, e tinham os boxes com chuveiros onde as pessoas tomavam banhos, por essa calha feita de bambu. E o banheiro era um buraco no chão, não tinha vaso sanitário.” – Otávio Barros, Vale Encantado
No Grupo do PPG, houve também a escuta dos moradores da comunidade e de outros territórios também, Flavinha Concecio do Complexo da Pedreira, fez um relato das dificuldades das favelas do subúrbio, para enfrentar situações relacionadas às questões de água e luz, do descaso do poder público na resolução de problemas, ela citou o exemplo das últimas enchentes que aconteceram na Zona Norte e Baixada Fluminense:
“O rio de Acari enche, aquela parte de baixo Fazenda Botafogo, do Complexo da Pedreira, toda aquela região ali, enche tudo. E a gente fica uma semana, 15 dias, 30 dias… Tem moradores que estão desde a enchente sem água, estão recebendo doações de água mineral. Tem moradores que estão sem luz. [...] Pra gente que é finalzinho da Zona Norte, do subúrbio e da Baixada a gente sofre essas precariedades diretas, [é difícil] de conseguir uma solução.” – Flavinha Concecio, Complexo da Pedreira
Favelas elaborando soluções para seus desafios nos seus territórios
Na parte final do evento de lançamento dos dados do territórios da Providência, PPG, Complexo da Pedreira e do Morro dos Macacos, algumas lideranças que desenvolvem projetos de impacto social e ambiental em seus territórios, foram chamadas a darem seus depoimentos, para os presentes, numa troca de experiências bem interessante.
Na parte final do evento de lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro, os participantes puderam ouvir relatos de experiências bem sucedidas em favelas. Foto: Bárbara Dias
Foram chamados a dar seus depoimentos Luis Cassiano, morador do Parque Arará e criador desenvolvedor do projeto Teto Verde Favela, que trabalha com eficiência energética criando telhados verdes em sua comunidade e sua capacidade de reduzir temperaturas; Otávio Barros, do Vale Encantado que inovou ao criar um biossistema para tratamento de esgoto em seu território; e André Leonardo e Luiz Carlos do Morro da Formiga, que fazem um trabalho centenário de preservação das águas em suas comunidades.
Luis Cassiano, explica que sua comunidade é um local extremamente quente, pois faltam áreas verdes, e que procurando soluções para essa questão, ele descobriu, pesquisou e criou uma técnica de um telhado verde adaptado à realidade da favela, para redução de temperatura e do consumo de energia elétrica:
“Essa técnica que eu consegui desenvolver, é uma técnica leve que eu consigo colocar ela em cima de uma telha de fibrocimento, de uma tela de zinco, de uma telha que é usada nas favelas, é uma técnica que é possível. [...] A gente usa o bidim, que é um gel geotêxtil, onde as plantas vão enraizar ai em cima” – Luis Cassiano, Teto Verde Favela
Luis Cassiano demonstra como funciona o Teto Verde no evento de lançamento de dados do relatório de justiça hídrica e energética nas favelas do Rio de Janeiro, no fim do dia os participantes puderam ouvir relatos de experiências bem sucedidas em favelas. Foto: Bárbara Dias
E ele faz a demonstração, numa maquete de uma casinha, para demonstrar a todos os presentes as plantas que são indicadas ao teto verde, principalmente aquelas que suportam a temperatura alta.
Otávio Barros, do Vale Encantado, contou a sua experiência de como a comunidade conseguiu construir um biossistema de saneamento ecológico, para resolver a questão do lançamento de esgoto nos corpos hídricos do território
“Eu juntei a comunidade, fizemos o projeto, e ai usando a mão de obra de comunidade, compramos o material, fizemos toda a canalização da comunidade que jogava dentro do rio, desviou por dentro da comunidade, coletando todo o esgoto e levou para a estação de tratamento, como a comunidade é íngreme, ia tudo por gravidade. na hora do tratamento de esgoto e do descarte. A gente criou uma cúpula onde o material orgânico, vai para esse compartimento, decanta e a água cinza sai em outro compartilhamento, e vai pra uns tanques que filtram o esgoto.” – Otávio Barros, do Vale Encantado
O dia de atividades da RFS se encerra com André Leonardo e Luiz Carlos do Morro da Formiga, que fazem um trabalho centenário de preservação das águas em suas comunidades, mantido por uma equipe do mutirão de reflorestamento:
“O arco verde que envolve o formiga verde onde hoje tem árvores, era só capim colonião, chegava o verão tinham queimadas, hoje a formiga tem muito verde, muitos animais que aparecem lá, muita água também, por conta desse reflorestamento, mas já tinha essa água historicamente, tá só mantendo agora, né.” – André Leonardo do projeto formiga verde
O dia de atividades da RFS se encerrou com histórias que apontam caminhos que levam a auto organização popular e comunitária como uma possibilidade das favelas de lidarem de forma criativa e autônoma, com seus desafios, na elaboração de projetos que visam diminuir os impactos causados pelas enormes desigualdades hídricas e energéticas que enfrentam seus moradores. Porém, não deixa de lado também a possibilidade de, a partir desses dados levantados pela pesquisa em 15 favelas, das comunidades se organizarem cada vez mais, para pressionar o poder público, a criação de políticas que também possam ser aplicadas na favela.
Encontro das Águas na Cidade de Deus: Projeto Eco Rede Fortalece Identidade e Resgata Memória dos Rios da Comunidade
Rio Grande visto da ponte nova, na Cidade de Deus. Ao fundo, vê-se o Maciço da Tijuca. Foto: Gabrielle Conceição
Esta é a matéria final de uma série sobre justiça hídrica nas favelas escrita por jovens moradores de favela e resultado do curso “Justiça Climática no Jornalismo Comunitário: Da Construção da Pauta à Redação da Notícia”. O curso, realizado pela equipe do RioOnWatch, em parceria com o GT Jovem da Rede Favela Sustentável (RFS), aconteceu nos meses de julho-setembro de 2023. Ela também faz parte de uma série gerada por uma parceria com o Digital Brazil Project do Centro Behner Stiefel de Estudos Brasileiros da Universidade Estadual de San Diego na Califórnia, para produzir matérias sobre justiça ambiental nas favelas fluminenses.
Rio Grande visto da ponte nova, na Cidade de Deus. Ao fundo, vê-se o Maciço da Tijuca. Foto: Gabrielle Conceição
A primeira enchente que marcou a história da Cidade de Deus (CDD), na Zona Oeste do Rio de Janeiro, foi a do ano de 1966, que afetou toda a cidade. Neste ano, a marca que a enchente deixou foi do crescimento repentino da nova comunidade ao receber os atingidos das enchentes em outras favelas. Temos em nossa raiz a memória de sermos resultado da desapropriação de outras favelas para a Cidade de Deus, que teve sua fundação antecipada e justificada para abrigar essas pessoas em 1966.
No entanto, esta não seria a única enchente a marcar a história do território. A Cidade de Deus e, a região do entorno, de Jacarepaguá, AP 4, é uma área propícia a alagamentos, delimitada pelo Maciço da Pedra Branca, Maciço da Tijuca e o Oceano Atlântico, com uma rede intensa de sub-bacias hidrográficas. A CDD está na planície de inundação do Rio Grande, o que significa dizer, que desde seu planejamento, parte de um conjunto habitacional público, estaria exposto a alagamentos.
Os Contrastes Gritam na Baixada Fluminense: Os Caminhos do Rio Dona Eugênia e a Favela da Coreia, na Cidade de Mesquita
Represa Epaminondas Ramos do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. O Parque possui dois acessos, pelo Caonze, em Nova Iguaçu ou pela Coreia, em Mesquita. Foto: Flávio Bravim
Esta é a terceira matéria de uma série sobre justiça hídrica nas favelas escrita por jovens moradores de favela e resultado do curso “Justiça Climática no Jornalismo Comunitário: Da Construção da Pauta à Redação da Notícia”. O curso, realizado pela equipe do RioOnWatch, em parceria com o GT Jovem da Rede Favela Sustentável (RFS), aconteceu nos meses de julho-setembro de 2023.
Represa Epaminondas Ramos do Parque Natural Municipal de Nova Iguaçu, Baixada Fluminense. O Parque possui dois acessos, pelo Caonze, em Nova Iguaçu ou pela Coreia, em Mesquita. Foto: Flávio Bravim
A Favela da Coreia, localizada na cidade de Mesquita, na Baixada Fluminense, é uma das maiores da região. Ela faz divisa com vários bairros da cidade e com o município vizinho de Nova Iguaçu. Uma área de grande densidade populacional e urbana, mas de imensa riqueza natural, com florestas e rios.
Parte inseparável da história e da paisagem da Favela da Coreia, o Rio Dona Eugênia corta o território e marca a vida dos moradores. Ele já foi utilizado pela população local para brincadeiras, afazeres domésticos, como lavar roupa, cozinhar e lavar a louça e, até mesmo, para beber. No entanto, com o passar dos anos, a negligência do Estado em implementar políticas de moradia, esgotamento e coleta de resíduos sólidos está matando trechos inteiros deste rio, o que já está impactando a vida dos moradores da Coreia.
Em Terceira Maior Favela do Brasil, Rio das Pedras, Oscilações da Maré e Mudanças Climáticas Aumentam Alagamentos de Esgoto
Aos pés do Maciço da Tijuca, a paisagem da localidade do Areal 1, em Rio das Pedras. Foto: Matheus Edson Rodrigues
Esta é a segunda matéria de uma série sobre justiça hídrica nas favelas escrita por jovens moradores de favela e resultado do curso “Justiça Climática no Jornalismo Comunitário: Da Construção da Pauta à Redação da Notícia”. O curso, realizado pela equipe do RioOnWatch, em parceria com o GT Jovem da Rede Favela Sustentável (RFS), aconteceu nos meses de julho-setembro de 2023.
Aos pés do Maciço da Tijuca, a paisagem da localidade do Areal 1, em Rio das Pedras. Foto: Matheus Edson Rodrigues
Rio das Pedras está localizada na Zona Oeste da cidade do Rio de Janeiro, entre os bairros de Jacarepaguá e Itanhangá, em uma área geográfica na cidade que é suscetível a inundações, tendo como delimitação, ao norte, o Maciço da Tijuca e, ao sul, a Lagoa da Tijuca. É possível identificar, no Mapa de Suscetibilidade a Inundações na Favela de Rio das Pedras, que a favela se expandiu rapidamente, se espraiando para extensas áreas da região da Baixada de Jacarepaguá, mais especificamente da Bacia do Rio das Pedras. Ao chegarem às margens do Rio das Pedras, os novos moradores, sobretudo migrantes que vieram trabalhar na Barra da Tijuca, construíram suas casas de maneiras diversas para atender suas necessidades. A favela cresceu muito e rapidamente, tanto de maneira vertical, quanto horizontal, tanto a montante, quanto a jusante do rio principal. Esse padrão de urbanização ocasionou diferentes problemas, além de potencializar o risco de enchentes.
Rio das Pedras sofreu diferentes mudanças espaciais durante sua urbanização que, somadas ao avançar das mudanças climáticas, tornam alguns eventos ambientais mais frequentes e destrutivos. As oscilações da maré têm atingido níveis mais altos do que antes. Além disso, essa água insalubre inunda áreas impermeabilizadas por asfalto e cimento, impossibilitando o escoamento e infiltração no solo. Sendo assim, esses locais também ficam alagados por mais tempo do que antes.
Justiça Hídrica na Rocinha: Falta D’Água Crônica como Bandeira da População
Caixas d’água nas lajes das casas na Rocinha. Foto: Karen Fontoura
Esta é a primeira matéria de uma série sobre justiça hídrica nas favelas escrita por jovens moradores de favela e resultado do curso “Justiça Climática no Jornalismo Comunitário: Da Construção da Pauta à Redação da Notícia”. O curso, realizado pela equipe do RioOnWatch, em parceria com o GT Jovem da Rede Favela Sustentável (RFS), aconteceu nos meses de julho-setembro de 2023.
Caixas d’água nas lajes das casas na Rocinha. Foto: Karen Fontoura
Parte da paisagem, a caixa d’água é peça fundamental na estrutura de qualquer casa ou edifício do Rio de Janeiro, representando a dura realidade frequente da falta d’água na cidade. Assim como outros territórios de favela, a maior favela da cidade, a Rocinha, na Zona Sul, enfrenta há décadas dificuldades ainda maiores com relação à água, em todas as localidades da favela, uma luta antiga na vida de seus moradores.
As divergências dos dados históricos em relação ao número de habitantes de fato na comunidade sempre interferiu na criação de políticas públicas capazes de promover a qualidade de vida dos moradores. Por exemplo, a quantidade de água disponível nos reservatórios atualmente, com base nos dados do IBGE de 2010, já na época insuficientes, de 70.000 moradores, daria a cada morador, em média, 31,5 litros diários. Se considerado o dado populacional de 122.000 habitantes do programa Comunidade Cidade, o consumo atual cai para apenas 18 litros por morador.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cada pessoa necessita de entre 50 e 100 litros de água por dia para suas necessidades básicas de consumo e higiene. A quantidade insuficiente disponível para os moradores da Rocinha evidencia a negligência do Estado em garantir o recurso mais básico, a água, para os moradores da maior favela da cidade.
1º Intercâmbio Nacional da Rede Favela Sustentável Amplia Saberes e Tece Sustentabilidade Entre Favelas, Quilombos e Aldeias [VÍDEO]
No dia 6 de junho de 2023, 155 mobilizadores comunitários e aliados de 12 estados brasileiros—Bahia, Ceará, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Pará, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul, Rondônia, Santa Catarina e São Paulo—se reuniram online para participar do 1° Intercâmbio Nacional da Rede Favela Sustentável: Tecendo Sustentabilidade e Ampliando Saberes, com Favelas, Quilombos e Aldeias, com mobilizadores e moradores que, em homenagem à semana mundial do meio ambiente, se uniram para pautar a sustentabilidade pelas suas próprias vozes e vivências.
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1o Intercâmbio Nacional da Rede Favela Sustentável (Português)
No dia 06 de junho aconteceu o primeiro Intercâmbio Nacional da Rede Favela Sustentável, com a presença de 155 pessoas, de 23 estados e 09 países, no Zoom. Contamos com mobilizadores de seis estados do Brasil—Bahia, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo—além da grande rede de mobilizadores comunitários das favelas do Grande Rio trocando sob o tema: Tecendo Sustentabilidade e Ampliando Saberes com Favelas, Quilombos e Aldeias.
Veja quem foram os convidados especiais, suas comunidades e projetos:
Almir Narayamoga Suruí — Projeto de Carbono Suruí — Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal, RO
Ben Hur Flores — Projeto Anjos e Querubins –– Pelotas, RS
Jam Sankofa — AfroCiclos — Salvador, BA
'Lia Esperança' (Maria de Lourdes Andrade de Souza) — Vila Nova Esperança, São Paulo, SP
Maria Luiza Nunes — Quilombo Boca da Mata, Ilha do Marajó, PA
'Tata Luandenkossi' (Marinho Rodrigues) — Grupo de Preservação da Cultura Negra Dilazenze e a Associação Gongombira de Cultura e Cidadania – Ilhéus, BA
'Ticote' (Francisco Xavier Sobrinho) — Associação de Moradores do Pouso da Cajaíba — Cajaíba, Paraty, RJ
O evento contou com uma roda de apresentações dos sete convidados, uma roda de debates a partir de quatro eixos: 1) Justiça Climática, 2) Moradia Sustentável, 3) Soberania Alimentar e 4) Educação Socioambiental e uma roda cultural, que finalizou o encontro.
A fim de democratizar o evento, contamos com interpretação simultânea para telespectadores em inglês e espanhol.
Quando Memórias Se Encontram: Rede Favela Sustentável Lança Exposição ‘Memória Climática das Favelas’
Todos os participantes do lançamento da exposição Memória Climática das Favelas, em frente a Igreja de São José Operário na Vila Autódromo. Foto: Bárbara Dias
No sábado, 17 de junho, o Museu das Remoções na Vila Autódromo, na Zona Oeste, acolheu o lançamento da exposição Memória Climática das Favelas organizada por museus integrantes da Rede Favela Sustentável. O evento foi uma grande culminância das rodas de memória realizadas, em cinco museus comunitários, no início do ano.
Click final com todos os participantes do lançamento da exposição Memória Climática das Favelas, em frente a Igreja de São José Operário na Vila Autódromo. Foto: Bárbara Dias
Entre eles estavam o Museu da Maré, Museu Sankofa Rocinha - Memória e História na Rocinha, NOPH - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz, Museu de Favela MUF no Pavão-Pavãozinho/Cantagalo e o Núcleo de Memórias do Vidigal. O volume de narrativas de memórias climáticas das favelas, na voz de seus moradores, deu origem à exposição.
Confira abaixo as matérias das cinco rodas de memória climática das favelas que já aconteceram:
1ª Roda de Memória Climática das Favelas no Museu da Maré: ‘A Palafita [foi] uma Estratégia de Sobrevivência, Um Saber’: https://bit.ly/MCnaMareNoROW
2ª Roda de Memória Climática das Favelas no Museu Sankofa, Rocinha: ‘Quando o Coletivo Resolve Lutar Junto, o Coletivo Vence’ [IMAGENS]: https://bit.ly/MCnaRocinhaNoROW
3ª Roda de Memória Climática das Favelas do NOPH em Antares, Santa Cruz: ‘Não Era Para Ninguém Ficar Aqui, Foi Passando 40 Anos, Não Tomaram Providência’ [IMAGENS]: https://bit.ly/MCemAntaresNoROW
4ª Roda de Memória Climática das Favelas no Museu de Favela, PPG: ‘A Gente Tem que Transformar Nossa Relação com o Lixo’ [IMAGENS]: https://bit.ly/MCnoPPGNoROW
5ª Roda de Memória Climática das Favelas no Núcleo de Memórias do Vidigal: ‘As Pessoas Precisam Morar!’ [IMAGENS]: https://bit.ly/MCnoVidigalNoROW
5ª Roda de Memória Climática das Favelas no Núcleo de Memórias do Vidigal: ‘As Pessoas Precisam Morar!’ [IMAGENS]
Confira a imperdível série de matérias que resumem a dinâmica da roda de memória realizada, em cinco museus comunitários, que compõe a exposição.
Leia a matéria da emocionante roda realizada pelo Núcleo de Memórias do Vidigal, na Zona Sul do Rio, onde os riscos climáticos mesclam com especulação imobiliária e uma história deturpada de remoções, sob um território muito amado e querido pelos seus moradores.
Participantes da Roda de Memória Climática, no Vidigal. Foto: Alexandre Cerqueira
“Cheguei em 1959. A comunidade aqui era uma mata. A gente respirava um ar puro, da montanha. O tempo foi passando, as pessoas precisam de casa. Da minha janela eu vejo. O que era mato mato mato virou casas. O povo teve que morar! As pessoas precisam morar! Meus filhos vão morar onde? No Leblon não pode. Então, tem que ser aqui. Tiro mais uma árvore. Menos uma árvore. Menos um ar puro para respirar.” — Armando Almeida Lima
As Rodas de Memória Climática têm como objetivo resgatar e registrar as memórias e histórias que guardam os moradores de longa data das favelas do Rio de Janeiro, sobre o tema do clima, para que possamos enxergar formas de nos preparar para as mudanças climáticas que estão por vir. O tema tradicionalmente é raramente abordado, apesar de, como mostraram as rodas, ser muito presente no cotidiano das favelas.
4ª Roda de Memória Climática das Favelas no Museu de Favela, PPG: ‘A Gente Tem que Transformar Nossa Relação com o Lixo’ [IMAGENS]
Confira a imperdível série de matérias que resumem a dinâmica da roda de memória realizada, em cinco museus comunitários, que compõe a exposição.
Leia a matéria da reveladora roda realizada pelo Museu de Favela MUF no Pavão-Pavãozinho/Cantagalo na Zona Sul do Rio, onde o impacto do lixo, junto dos eventos climáticos cada vez mais intensos, é a preocupação que reina.
Colaboradores e educadores sociais integram a Roda de Memória Climática no PPG. Foto: Alexandre Cerqueira
“Não foi exatamente a caixa d’água que desabou (em 1983). Foi o lixo. O pessoal fez uma montanha de lixo lá em cima [já que não havia serviço de coleta pública] e ela desabou… No mesmo lugar, repetiram essa montanha e ela caiu de novo. Essa montanha, que não tinha que tá lá, foi levada pela chuva forte… [a enxurrada] levou uma pedrona no caminho, e essa pedra bateu na caixa d’água, que se movimentou um pouco, e fez com que as caixas abaixo dela descessem também.” — Márcia Souza
“Todo dia eu faço a minha realidade acontecer. Sábado, domingo, feriado. É todo dia o trabalho. Tenho vergonha de ver um turista aqui e ter lixo e cocô no chão, esgoto aberto, esgoto vazando, rato de dia e de noite… O poder público sobe as favelas do Rio, mas porque não resolve? Estamos discutindo esse tema com pessoas aqui de 70 anos, 85 anos. E não sei por quantos anos lá na frente vai ter gente falando. E o poder público nada faz." — Nivaldo Moura
As Rodas de Memória Climática têm como objetivo resgatar e registrar as memórias e histórias que guardam os moradores de longa data das favelas do Rio de Janeiro, sobre o tema do clima, para que possamos enxergar formas de nos preparar para as mudanças climáticas que estão por vir. O tema tradicionalmente é raramente abordado, apesar de, como mostraram as rodas, ser muito presente no cotidiano das favelas.
3ª Roda de Memória Climática das Favelas do NOPH em Antares, Santa Cruz: ‘Não Era Para Ninguém Ficar Aqui, Foi Passando 40 Anos, Não Tomaram Providência’ [IMAGENS]
Confira a imperdível série de matérias que resumem a dinâmica da roda de memória realizada, em cinco museus comunitários, que compõe a exposição.
Leia a matéria da emocionante roda realizada pelo NOPH - Núcleo de Orientação e Pesquisa Histórica de Santa Cruz na comunidade de Antares, em Santa Cruz, uma comunidade que nasceu de remoções relatadas nas rodas anteriores, e que foi inicialmente contemplada como moradia provisória, de triagem. Porém, fica em uma bacia que historicamente, sempre, alagava. O que não vem melhorando com as mudanças climáticas.
Participantes e realizadores da 3ª Roda de Memória Climática, em Antares. Foto: Alexandre Cerqueira
“Sofri muito neste local aqui. Perdi tudo na minha casa, teve enchente. Não tinha água, não tinha luz… mas eu amo muito Antares.” — Leny Martins
“Sofri várias enchentes, perdi tudo. Mas, tô aqui de pé, na luta aqui de novo. Guerreiro não morre… guerreiro vive!” — Vera Lucia Rodrigues
As Rodas de Memória Climática têm como objetivo resgatar e registrar as memórias e histórias que guardam os moradores de longa data das favelas do Rio de Janeiro, sobre o tema do clima, para que possamos enxergar formas de nos preparar para as mudanças climáticas que estão por vir. O tema tradicionalmente é raramente abordado, apesar de, como mostraram as rodas, ser muito presente no cotidiano das favelas.
2ª Roda de Memória Climática das Favelas no Museu Sankofa, Rocinha: ‘Quando o Coletivo Resolve Lutar Junto, o Coletivo Vence’ [IMAGENS]
Confira a imperdível série de matérias que resumem a dinâmica da roda de memória realizada, em cinco museus comunitários, que compõe a exposição. Esta segunda matéria apresenta a roda imperdível realizada pelo Museu Sankofa Rocinha - Memória e História, contando com parceiros do A Rocinha Resiste, Rocinha Sem Fronteiras, Jornal Fala Roça, entre outros.
Participantes da 2ª Roda de Memória Climática, na Rocinha.
“Isso aqui que estamos fazendo é uma troca de saberes. As disputas políticas internas existem. Vão existir sempre. [Mas] quando o coletivo resolve lutar junto, o coletivo vence. Nós paramos a remoção da Rocinha. Conquistamos a saúde. Com uma luta coletiva, conseguimos o CIEP, o metrô. Fizemos praticamente uma luta de classes. Foi dedo na cara dos bacanas… A Rocinha tem saberes coletivos.” — Antonio Xaolin
As Rodas de Memória Climática têm como objetivo resgatar e registrar as memórias e histórias que guardam os moradores de longa data das favelas do Rio de Janeiro, sobre o tema do clima, para que possamos enxergar formas de nos preparar para as mudanças climáticas que estão por vir. O tema tradicionalmente é raramente abordado, apesar de, como mostraram as rodas, ser muito presente no cotidiano das favelas.
1º Intercâmbio Nacional da Rede Favela Sustentável: Tecendo Sustentabilidade e Ampliando Saberes, com Favelas, Quilombos e Aldeias
Participação de mobilizadores de suas comunidades em seis estados do Brasil—Bahia, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo—e teremos interpretação simultânea para telespectadores em inglês e espanhol e muita troca cultural e de saberes!
Semana Mundial do Meio Ambiente 2023
É com muita felicidade que viemos convidar você para o 1º Intercâmbio Nacional da Rede Favela Sustentável sobre o tema Tecendo Sustentabilidade e Ampliando Saberes com Favelas, Quilombos e Aldeias! Será uma troca de saberes e cultural com a participação de mobilizadores comunitários de todo o país dialogando sobre diversos temas. O encontro será online pela plataforma Zoom e será transmitido ao vivo no YouTube. Participe dessa incrível e potente troca!
Terça-feira, dia 06 de junho das 18h às 20h30 - Evento online no Zoom
Contaremos com a participação de mobilizadores de suas comunidades em seis estados do Brasil—Bahia, Pará, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Rondônia, São Paulo—e teremos interpretação simultânea para telespectadores em inglês e espanhol e muita troca cultural e de saberes!
Nossos Convidados Especiais:
Almir Narayamoga Suruí — Projeto de Carbono Suruí — Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal, RO
Líder do seu povo na Terra Indígena Sete de Setembro, em Cacoal (RO), é internacionalmente conhecido pela luta no enfrentamento aos posseiros, madeireiros e mineradoras nas terras de seus ancestrais. Na COP15 apresentou o premiado Carbono Suruí, primeiro projeto de redução de emissões por desmatamento proposto em Terras Indígenas no mundo. Popularmente conhecido como a liderança indígena mais empreendedora do Brasil, leva como bandeira direitos humanos e ambientais no debate sobre mudanças climáticas globais e as possibilidades para um desenvolvimento mais sustentável.
Ben Hur Flores – Projeto Anjos e Querubins – Pelotas, RS
Ator de formação e percussionista, tem 54 anos, é deficiente visual, fundador, coordenador e presidente da ONG Anjos e Querubins que realiza projetos de educação musical na comunidade do loteamento Getúlio Vargas em Pelotas (RS) e compõe a Orquestra Popular Afrobeat. Utilizando materiais alternativos como balde, lata e tampa de panela, criou uma identidade para a ONG e a conectou ao tema da sustentabilidade e dos resíduos sólidos, conquistando mais de 20 prêmios e o título de utilidade pública.
Jam Sankofa — AfroCiclos — Salvador, BA
Mulher, preta, nascida e criada na periferia da Guine, em Pernambués, um dos bairros mais negros de Salvador, é ativista por mobilidade. Bacharel em Humanidade, pesquisou sobre a urbanização eugenista das cidades brasileiras. Criou o 'Preta, Vem de Bike', projeto voltado para ensinar mulheres pretas a pedalar. Co-fundadora e coordenadora da Afro Ciclo, rede de mobilização coletiva e projeto social de base comunitária que visa mobilidade sustentável, atua pela transformação social de comunidades segregadas no Recôncavo Baiano, debatendo o cicloativismo sob o recorte racial.
'Lia' (Maria de Lourdes Andrade de Souza) — Vila Nova Esperança — São Paulo, SP
Líder comunitária há mais de 12 anos, fundou em 2018 o Instituto que leva seu nome para educar os moradores da comunidade sobre o meio ambiente e como obter uma alimentação mais saudável. Baiana de Itaberaba, obteve o selo "Ligue os Pontos", em 2020, da Secretaria de Desenvolvimento Econômico de SP para a horta comunitária existente no local. Membro do Comitê Mulheres do Brasil, é hoje uma liderança, referência em agricultura urbana, sendo convidada regularmente para palestras e seminários e entrevistas para jornais e revistas.
Maria Luiza Nunes — Quilombo Boca da Mata — Ilha do Marajó, PA
Quilombola da Boca da Mata, quilombo na Ilha do Marajó (PA), é uma das idealizadoras do Coletivo Pretas Paridas da Amazônia e militante da Rede Fulanas Herdeiras. Ativista, luta pela ampliação, valorização e visibilidade de mulheres negras nos espaços empreendedores através do Coletivo Pretas Paridas da Amazônia, que desenvolve produtos e serviços ligados à sua história, buscando nos saberes ancestrais o seu bem viver. Faz parte também do Fórum Paraense de Economia Solidária.
'Tata Luandenkossi' (Marinho Rodrigues) — Grupo de Preservação da Cultura Negra Dilazenze e a Associação Gongombira de Cultura e Cidadania — Ilhéus, BA
Ogan e filho carnal da mãe-de-santo Mãe Ilza Mukalê, ambos do Terreiro de Matamba Tombenci Neto, um dos terreiros de nação Angola mais antigos da Bahia (em Ilhéus, de 1885). Foi um dos fundadores do Grupo de Preservação da Cultura Negra Dilazenze e presidiu o Conselho das Entidades Afro Culturais de Ilhéus. Criou a Organização Gongombira de Cultura e Cidadania e o Memorial Unzó Tombenci Neto, o primeiro de matriz africana do interior baiano, que integra o Circuito de Museus de Ilhéus.
'Ticote' (Francisco Xavier Sobrinho) — Associação de Moradores do Pouso da Cajaíba — Cajaíba, Paraty, RJ
Nascido e criado na comunidade caiçara Pouso de Cajaíba, na Reserva Ecológica da Juatinga, Paraty (RJ), é a quinta geração da família Xavier com 63 anos. É da associação de moradores, pescador, agricultor, permacultor, fundador do Ipeca (Instituto de Permacultura Caiçara), liderança no Fórum de Comunidade Tradicional Indígena, Quilombola e Caiçara (FCT) e pesquisador no Observatório de Território Sustentável Saudável da Bocaina (OTSS), que visa promover o desenvolvimento de estratégias sustentáveis, saúde e direitos para o bem viver de comunidades tradicionais em seus territórios.
Como será o evento:
⏳ SESSÃO 1, das 18h às 18h45 — Roda de apresentações — Cada convidado especial terá alguns minutos para apresentar a si e sua iniciativa e responder perguntas sobre suas iniciativas por mobilizadores da Rede Favela Sustentável do Rio.
⏳ SESSÃO 2, das 18h50 às 19h35 — Roda de debates — Vamos debater o tema sustentabilidade com perguntas colocadas por mobilizadores da Rede Favela Sustentável e os convidados especiais, a partir dos temas: 1) Justiça Climática; 2) Moradia Sustentável; 3) Soberania Alimentar; e 4) Educação Socioambiental.
⏳ SESSÃO 3, das 19h40 às 20h25 — Roda cultural — Momento aberto para trocas culturais, espaço expositivo artístico-sensitivo, com reflexões e provocações coletivas. Esse momento será norteado pelas seguintes perguntas: O que é sua comunidade/favela para você? Quais memórias do seu território todos precisam saber? Qual a maior potência do seu território? O que faz unir a sua comunidade?
O evento será em comemoração à Semana do Meio Ambiente,
terça-feira, dia 06 de junho das 18-20h30.
Divulgue o evento encaminhando essa página
e convidando seus contatos, amigos, estudantes e colegas a se inscreverem!
Primeiro Relatório ‘Eficiência Energética nas Favelas’ Expõe Detalhes Inéditos sobre Impacto da Ineficiência do Serviço e Uso de Luz sobre a Pobreza e Aprofundamento das Desigualdades
Os coletivos responsáveis pelo Painel Unificador Covid-19 nas Favelas e relatório 'Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação' lançam relatório específico analisando impactos da (in)eficiência energética em 15 comunidades fluminenses.
Em preparação para o Dia da Terra (22 de abril), a Rede Favela Sustentável (RFS) e Painel Unificador das Favelas (PUF)* lançam hoje um novo relatório bilingue, Eficiência Energética nas Favelas. No ano passado, foi realizado o curso e pesquisa 'Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas', uma iniciativa da RFS, PUF e sete instituições parceiras.** A pesquisa ocorreu no mesmo ano em que o censo do IBGE foi realizado após mais de uma década sem dados oficiais atualizados sobre o território nacional. O curso e a pesquisa resultante dele contaram com 45 jovens e lideranças de 15 favelas do Grande Rio como pesquisadores-cidadãos, provando que a favela produz dados robustos, gerando inclusive uma visão mais completa do que conseguem muitos pesquisadores e empresas de fora dos territórios.
Após o aplaudido lançamento do relatório geral, fruto de sua pesquisa, 'Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação'—lançado em setembro de 2022 com cobertura na TV Globo, CNN, Agência Brasil, e Notícia Preta—os participantes voltaram sua atenção para análises mais profundas e detalhadas dos seus dados. Uma delas resultou neste novo relatório, lançado hoje.
Dados Inéditos sobre Eficiência Energética nas Favelas
Os dados apresentados no novo relatório Eficiência Energética nas Favelas refletem a realidade de 1.156 famílias (4.164 pessoas) em 15 favelas de cinco municípios do Grande Rio e apresentam especificamente a relação da energia com a pobreza e desigualdade social, mirando a eficiência tanto do serviço prestado quanto do seu uso. A riqueza das informações levantadas foi surpreendente até para os envolvidos. Kayo Moura, cientista social e estatístico em formação, integrante do laboratório de narrativas e dados do Jacarezinho, LabJaca, recém-citado como referência pelo The New York Times, foi responsável pela análise.
Ele explica: "A minha bagagem não é relacionada diretamente ao ambientalismo e à sustentabilidade, por isso entendia a eficiência energética como uma pauta que talvez não me pertencesse. O mais interessante [desta pesquisa]… foi entender que, quando a gente está falando do debate sobre eficiência energética nas favelas, nas periferias, no Sul Global, estamos falando de um debate sobre justiça, sobre acesso. Se tivesse que definir o relatório em um argumento seria: a ineficiência energética acaba funcionando como uma ferramenta de injustiça energética, sobretudo nas favelas do Brasil. Dentro da favela, a partir de famílias em sua maioria em condição de vulnerabilidade social, a ineficiência acaba afetando as famílias mais pobres dentre as mais pobres. São as que menos têm conhecimento sobre seus direitos, como a Tarifa Social de Energia Elétrica. São elas as que mais sofrem com a ineficiência do serviço, as que mais ficam sem luz e as que ficam mais tempo para que a luz retorne." A partir de um aprofundamento nos dados sobre pobreza energética e suas sequelas, sobre equipamentos ineficientes como default e sobre a prevalência de hábitos energeticamente eficientes entre os moradores de favela—o que vai contra os preconceitos da sociedade—além de outros elementos que vieram à tona durante as investigações, a pesquisa apresenta opções para que o poder público possa pensar em políticas públicas, a partir da eficiência energética, como, por exemplo, tornar a conta de luz mais acessível para as famílias socialmente mais vulneráveis, seja através de aparelhos eficientes ou de descontos.
Pobreza e Desigualdade Racial como Pano de Fundo
O relatório, Eficiência Energética nas Favelas, apresenta primeiro os dados dentro do seu contexto socioeconômico, realizando comparações voltadas à renda. Por exemplo, de 4.163 moradores representados nos dados, 15% vivem com até meio salário mínimo e 36,8% entre meio e um salário mínimo.
Então, pouco mais de 50% das pessoas refletidas na pesquisa ganham somente até um salário mínimo como renda familiar mensal. Relacionado a isso, mais da metade das famílias entrevistadas estão abaixo da linha da pobreza. Quando a análise tornou sua atenção à composição racial das faixas de renda, ficou evidente, entre as famílias participantes da pesquisa, uma relação inversa entre raça e renda. Mesmo se tratando de favelas, quanto mais alta a renda, menor foi a proporção de pessoas negras encontradas. O contexto geral da sociedade, de pessoas negras ocuparem as faixas de renda mais baixas, se reproduz também nesta amostra feita dentro de favelas.
Pobreza Energética e Suas Brutais Sequelas
Um conceito importante a ser incorporado no debate público sobre acesso aos serviços básicos no Brasil é o da pobreza energética, que se refere à conta de luz que representa mais de 10% da renda familiar mensal (o recomendado é que seja sempre menos que 6,8% da renda familiar). O novo relatório mostra que as famílias que ganham até meio salário mínimo são as que concentram o maior número de famílias em pobreza energética. Há uma linha de tendência: conforme aumenta a faixa de renda, diminui a proporção de famílias em pobreza energética. Enquanto isso, 69% dos respondentes afirmaram que, caso sua conta de luz fosse reduzida pela metade, utilizariam este dinheiro para comprar comida (ao invés de outras contas, medicamentos, educação, etc.). Quer dizer: a pobreza energética está diretamente ligada à insegurança alimentar dos entrevistados.
A pobreza energética também leva à necessidade de suprir a demanda por luz e tudo que ela garante (desde acionar bombas para se ter acesso à água, à capacidade de acessar informações e oportunidades de emprego através do celular) de outras formas. Como explica Kayo: "A abordagem que a gente teve sobre 'gatos' na pesquisa foi sob perspectiva que pensa o acesso e que não criminaliza. Os dados evidenciam o 'gato', às vezes, como o único mecanismo que a pessoa tem para acessar energia. As famílias mais pobres, que têm até meio salário mínimo, apresentam a maior proporção de 'gatos'. Conforme a renda vai 3 aumentando, a maioria das famílias afirma não ter 'gato'. Então, vemos como uma questão de acesso, de ter condição de pagar a conta de luz e não uma questão de desonestidade, de querer tirar vantagem."
Conquiste seu espaço
A consequência de depender do ”gato”, da conexão irregular, é a ineficiência do acesso ao serviço e seu reparo, reforçando mais ainda a pobreza da família que dele depende.
São as famílias com menor renda na pesquisa as que mais sofrem com a ineficiência no serviço. Kayo faz outro excelente resumo dos resultados: "Quem relatou sofrer todo dia com falta de luz está presente nas faixas de renda de até meio salário mínimo. Ao perguntarmos sobre episódios de falta de luz nos últimos três meses que tenham durado mais de 24 horas, isto fica evidente de novo. Conforme a gente aumenta a faixa de renda, aumenta o número de pessoas que declararam não ter sofrido com a falta de luz por mais de 24 horas nos últimos três meses. Temos também a realidade de que as pessoas socialmente mais vulneráveis, são as que menos têm uma relação de consumidor com a concessionária Light. A ineficiência no serviço novamente penaliza as pessoas mais pobres, que, por uma série de motivos, não conseguem contato com a concessionária para reivindicar questões que são direitos." O descaso, porém, acontece também com quem tem relógio medidor e deveria ter relação estreita com a Light, como descrito por um jovem pesquisador no caso de uma moradora em sua comunidade de Mesquita: "As concessionárias fazem tudo do jeito deles, na hora que elas querem. Teve até um caso de uma moça onde eles simplesmente chegaram e arrancaram o relógio dela e não deram nenhuma satisfação. E a conta continua chegando, mesmo sem ter um medidor."
Equipamentos Ineficientes por Falta de Opção e Informação
Quando se pensa em eficiência energética, tipicamente o que vem à mente são os equipamentos eficientes, aqueles eletrodomésticos que conseguem fazer mais usando o mesmo nível de energia e assim economizando. A pesquisa procurou entender se moradores das favelas compondo a pesquisa têm acesso, usam e quais são os equipamentos que acabam pesando mais na conta de luz.
Conforme os resultados citados acima demonstrando o impacto da vulnerabilidade das famílias com menor renda, não é diferente quando se trata de se ter informações sobre equipamentos eficientes, que poderiam poupar na conta de luz. Essas são as mesmas famílias que apresentaram a maior proporção de desconhecimento sobre o significado da etiqueta da ENCE (Etiqueta Nacional de Conservação de Energia), etiqueta que 4 obrigatoriamente tem que ser exibida em todos eletrodomésticos, indicando a quantidade de energia utilizada em comparação com outros aparelhos.
Porém, como foi levantado em paralelo por relatos qualitativos ao longo da pesquisa, aparelhos eficientes tendem a ser de última geração, mais caros; enquanto moradores que perdem eletrodomésticos à apagões e compram aparelhos usados, não conseguem acessá-los. Para se ter uma noção do aspecto técnico da eficiência energética, a pesquisa separou os principais equipamentos (ar condicionado, chuveiro elétrico, geladeira, máquina de lavar, televisão e ventilador) e foi calculado uma estimativa do impacto do consumo de cada um na renda mensal das famílias. A pesquisa confirmou que o ar condicionado é o “grande vilão” tanto do consumo de energia elétrica, quanto para o orçamento doméstico, ainda que ele seja uma benção em dias quentes. Ele, dentre todos os eletrodomésticos, é o que gera mais impacto: responsável por 51,4% deste consumo. Mais do que o chuveiro elétrico, a geladeira, a máquina de lavar, a TV e o ventilador juntos. Mais de 50% dos entrevistados possuem entre um e três aparelhos de ar-condicionado. Segundo Kayo, esta parte do levantamento foi realizada para subsidiar autoridades e técnicos que queiram pensar formas de ajudar famílias a atingirem um consumo médio mais eficiente. "Talvez não seja possível produzir um ar condicionado que seja três vezes mais eficiente, mas então será que não é possível fazer uma tarifa social que dê 25% de desconto para famílias de determinado perfil que tenham ar condicionado, por exemplo?", explica.
Hábitos Eficientes Independentemente do 'Gato'
Existem duas principais estratégias para atingir o uso eficiente da energia. A primeira é pelo investimento em equipamentos eficientes, o que, como demonstrado, tem sido pouco acessível aos moradores de favela pelo custo e falta de informação. A segunda, no entanto, é mais alcançável. Trata do componente humano: os hábitos dos consumidores. A pesquisa fez várias perguntas voltadas para entender os hábitos eficientes dos consumidores, como se a pessoa lembra de desligar a luz ao sair do ambiente, ou se dá preferência para lâmpadas LED. A partir destas respostas, foi construído um sistema de pontuação atribuindo um ponto para cada resposta que representava um alto grau de eficiência energética. A pontuação máxima era 9. O resultado mostra um alto grau de preocupação em manter 5 hábitos eficientes: mais da metade dos entrevistados pontuaram entre 6 e 9.
Muitos inclusive buscam ter hábitos que são de eficiência energética sem conhecer o termo. Kayo resume: "Existe um mito entre muitas pessoas que acham que na favela ninguém liga para hábitos de economia energética. Também existe o mito de que todo mundo na favela tem 'gato' e por não pagar a luz não se importa com economia [e eficiência]. Pegamos então a comparação de pontos entre as pessoas que têm 'gato' e as pessoas que não têm 'gato'. O que descobrimos é que existe uma pequena diferença entre quem tem e quem não tem 'gato', mas é uma diferença quase insignificante, indicando que, de forma geral, independente de se a pessoa tem 'gato' ou não, os moradores tendem a buscar uma eficiência energética naquilo que elas podem: nos seus hábitos."
Autoridades Falham na Garantia do Acesso à Tarifa Social
A pesquisa realizada pelos 45 jovens e lideranças, cujos indicadores foram definidos por eles mesmos, incorporou perguntas voltadas à apresentação e identificação do conhecimento de seus vizinhos sobre a Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE) e a etiqueta ENCE. A Tarifa Social funciona dando descontos na conta de luz a quem mais precisa e também premia sua economia de energia. Quanto mais eficiente o consumidor for, maior é o seu desconto. Ambos são mecanismos já existentes que visam, em tese, baratear a conta de luz para as famílias que têm maior necessidade. Infelizmente, como no caso da etiqueta ENCE, o desconhecimento da Tarifa Social é muito grande. Isso foi percebido em todas as faixas de renda ao longo da pesquisa. E esse desconhecimento é ainda maior, mais do que 75%, entre os grupos de menor faixa de renda, os que têm mais necessidade e direito de usufruir da TSEE. Aproximadamente 60% de todas as famílias da pesquisa atendem o critério de renda para usufruir da TSEE, entretanto, somente 8% afirmam receber o benefício. Analisando as famílias que se enquadram nos critérios de renda para ter o benefício da TSEE, 90% delas afirmam não recebê-lo.
Apesar de Excluída, Favela É Potência
Eficiência Energética nas Favelas é o segundo relatório fruto do curso de pesquisa 'Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas' através do qual 45 jovens e lideranças de 15 favelas construíram uma pesquisa robusta que tem gerado conhecimentos inéditos. Mais relatórios virão, lançando recortes de dados por região e novas análises são bem-vindas. Como explica Kayo: "O projeto e a pesquisa vão ter continuidade. Foi uma pesquisa muito poderosa, pensando toda a metodologia, construída coletivamente, produto de um curso de pesquisa desenvolvido por redes de favelas [Rede Favela 6 Sustentável, Painel Unificador das Favelas e parceiros]. Eu acho que o mais legal do relatório é que ele abre várias perguntas para serem desenvolvidas, sobre eficiência energética, sobre justiça energética, sob outros aspectos, com outros recortes. Vale ficar conectado com a Rede Favela Sustentável para ver quais são os próximos passos." E concluindo, ele continua: "A demora no retorno da luz e a falta de atendimento geral são frutos de um processo histórico: a ausência seletiva do Estado. O Estado aparece na favela, mas somente em alguns setores específicos, sobretudo, com o braço armado. Por isso, a narrativa é tão importante. As pessoas de fora costumam enxergar a favela como um problema e, por isso, é tão importante esse trabalho de pesquisa que fizemos a partir da favela, para a favela. Não estamos mais como objeto de estudo, estamos construindo nossa própria narrativa de dentro pra fora. A gente tá produzindo discurso sobre nós mesmos. Não tem como pensar e falar sobre favela sem a gente estar ali como os atores principais, como sujeitos. A gente tá ali contando a nossa história. Não é mais ninguém que conta vindo de fora. Por isso, a importância da energia, por que falta de luz atualmente também é falta de [acesso à] comunicação. E temos que resistir e lutar, para a gente falar por nós mesmos, para a gente contar nossa história. A história do Brasil a partir da gente."
DESTAQUES ENTRE OS DADOS
Sobre Eficiência e Qualidade do Acesso
● 55,2% das pessoas representadas na pesquisa se encontram abaixo da linha da pobreza, ou seja, vivem com renda familiar per capita mensal de até R$497;
● 41,5% das famílias que ganham até meio salário mínimo ficaram, nos últimos três meses, mais de 24 horas sem luz. Entre famílias que ganham de dois a três salários mínimos, foram 23%. 32,1% já perderam eletrodomésticos por causa de falhas na rede elétrica;
● As famílias pagam, em média, uma conta de luz duas vezes maior do que a média da capacidade de pagamento declarada. 31% das famílias encontram-se em situação de pobreza energética, comprometendo uma parcela desproporcional do orçamento familiar com a conta de luz;
● 69% gastariam mais com comida caso a tarifa fosse diminuída;
● 68,7% dos entrevistados (794 pessoas) não conhecem a Tarifa Social de Energia Elétrica (TSEE). 59,55% das famílias atendem ao critério de renda para usufruir da Tarifa Social, entretanto somente 8,04% das famílias afirmaram receber o benefício, enquanto 90,4% das famílias que atendem ao critério de renda para ter o benefício afirmam não recebê-lo;
● 73% das famílias que ganham até meio salário mínimo afirmaram não fazer reclamações ou solicitar serviços para a Light. Conforme a renda aumenta, o conforto em buscar a concessionária aumenta: só 33% dos acima de quatro salários dizem não fazer reclamações à Light.
Sobre Aparelhos e Hábitos Eficientes
● O ar condicionado é responsável por mais da metade (51,4%) do consumo de energia na amostra, seguido pelo chuveiro elétrico (13,8%) e geladeira (13,6%);
● Existe um bom nível em termos de hábitos conscientes de uso da energia elétrica entre a população da amostra. A pontuação média foi de 6,21, sendo o limite superior da pontuação 9 e o inferior 0. Entre os entrevistados, 78% sempre lembra de apagar a luz ao sair de um ambiente e 67% dá preferência a lâmpadas LED, mais eficientes e econômicas;
● 50,6% afirmaram saber o significado da Etiqueta Nacional de Conservação de Energia (ENCE). Dos que reconhecem a etiqueta, 49,1% afirmaram já ter comprado um eletrodoméstico baseado no fato dele ser classificado na categoria A do selo ENCE.
Pesquisar Também É ‘Nós Por Nós’! Lideranças e Jovens de 15 Comunidades Lançam o Relatório ‘Justiça Hídrica e Energética nas Favelas’
No mesmo ano em que o Censo do IBGE vem sendo realizado (2022), após mais de uma década sem dados oficiais atualizados sobre o território nacional, surge o relatório, “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação”, rico em dados frutos do curso “Pesquisando e Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas”, uma iniciativa da Rede Favela Sustentável e do Painel Unificador das Favelas com colaboração de oito instituições*.
Através do curso, 45 alunos de 15 favelas** realizaram entrevistas nas residências de 1156 famílias (4164 pessoas) entre maio e junho de 2022, produzindo uma pesquisa que retrata os desafios de acesso, qualidade e eficiência da água e luz nas suas comunidades e contempla cinco municípios do Grande Rio. A dedicação dos alunos, que driblaram diversos empecilhos, entre elas um período de intensas operações policiais, foi notável e fundamental para atingir tantas famílias com a pesquisa.
Territórios representados no curso.
Entre tantos dados relevantes, destacam-se que 59,6% das famílias cumprem os requisitos para serem registradas no Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), um importante instrumento de coleta de dados e informações que objetiva identificar todas as famílias de baixa renda existentes no país para fins de inclusão em programas de assistência social e redistribuição de renda. Mesmo assim, praticamente metade (48,8%) dos que cumprem os requisitos ainda não se registrou.
Tratando-se do acesso à água, foi descoberto que 42,5% dos entrevistados sofreram para fazer a higiene básica durante a pandemia devido à falta de água. Além disso, quase metade (48,2%) dos entrevistados dependem de bombas para ter acesso à água, gerando um custo adicional nas já alarmantes contas de luz. Outra questão bastante destacada foi o problema dos alagamentos, que afetam a vida de mais da metade (51,5%) dos entrevistados. A perspectiva majoritária destes, com mais de 80%, é de que esse problema das enchentes piorou nos últimos dois anos.
Quanto aos dados coletados sobre luz, avaliando-se o peso desta no orçamento familiar, foi descoberto que 56,8% dos entrevistados vivem em situação de pobreza energética*** em nível moderado a grave. Igualmente preocupante foi a resposta de que quase 70% dos entrevistados gastariam mais com alimentos caso suas contas de luz fossem reduzidas, o que expõe novamente a grave crise de insegurança alimentar que a população vem enfrentando. Sobre os apagões, descobriu-se que 32,2% dos entrevistados sofreram com falta de luz nos últimos três meses e que para 43,4% demora mais de seis horas para retornar.
Participantes do curso
*A Rede Favela Sustentável, o Painel Unificador das Favelas e o RioOnWatch são iniciativas realizadas pela organização sem fins lucrativos, Comunidades Catalisadoras (ComCat). O curso “Monitorando e Pesquisando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas” foi realizado de forma coletiva pelas seguintes organizações: Raízes em Movimento, ICICT e EPSJV (Fiocruz), Instituto Clima e Sociedade, CLASP, LabJaca, DataLabe, e Casa Fluminense.
Conheça o Curso ‘Pesquisando e Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas’
O curso ‘Pesquisando e Monitorando a Justiça Hídrica e Energética nas Favelas’ foi idealizado no âmbito das discussões do Painel Unificador das Favelas e da Rede Favela Sustentável, ambas iniciativas realizadas por uma rede de coletivos comunitários, ambas redes articuladas pela Comunidades Catalisadoras (ComCat).
Havendo percebido a importância existencial que teve às próprias favelas coletarem dados para incidência durante a pandemia, o curso foi construído com o objetivo de desmistificar o processo de coleta e compreensão de dados e garantir o controle na geração de dados elos próprios territórios, mirando a incidência política. O tema definido para o curso inaugural foi justiça hídrica e energética, pela natureza fundamental de ambos para o pleno desenvolvimento e inclusão das favelas.
O curso, realizado entre março e setembro de 2022, contou com a participação de 30 jovens e 15 lideranças de comunidades do Grande Rio, e passou pelos seguintes módulos: (1) a importância de pesquisa por e nas favelas, (2) o que é justiça energética e hídrica em relação aos temas de acesso, qualidade e eficiência, (3) a definição dos indicadores de acordo com prioridades dos territórios, (4) a coleta de dados em campo, (5) a análise e compreensão de dados e identificação de dados-chave, (6) como incidir politicamente com os dados coletados, (7) como realizar a relatoria, tanto popular quanto técnica, e (8) como comunicar os dados para os devidos fins, de incidência política e conscientização popular.
Além da formação de jovens e lideranças comunitárias em coleta, análise e divulgação de dados e tópicos de justiça energética e hídrica aplicados às realidades locais, mostramos como através da implementação de uma metodologia de co-criação e co-gestão na montagem e aplicação do questionário, pesquisas realizadas por moradores podem ser mais robustas do que as realizadas por instituições externas. Seja pela maior abertura dos vizinhos e interesse nos resultados; pela capacidade de trazer contexto e vivência prática para os dados coletados, promovendo a maior compreensão do do “por quê?” atrás dos dados; ou pela vontade de fazer valer os resultados coletados na parte dos envolvidos, para reivindicar mudanças.
Vivenciando a Rede Favela Sustentável (2022 Retrospectiva)
Vídeo 2022
Em 2022, a Rede Favela Sustentável pôde vivencia a energia das atividades presenciais novamente, ganhando força com recursos novos para o início do Projetão de Justiça Climática nas Favelas.
O Vale Encantado concretizou a implantação de um biossistema para tratamento de esgoto e painéis solares na comunidade, com repercussão internacional. O CEM (Centro de Integração da Serra da Misericórdia) realizou o intercâmbio sobre soberania alimentar. E ainda a Cooperativa Transvida realizou um intercâmbio sobre reciclagem de resíduos sólidos na Vila Cruzeiro.
Além disso, as comunidades do Salgueiro e Trapicheiros foram anfitriões para o curso de Mobilização Socioambiental facilitado pelo Alfazendo (Cidade de Deus). A RFS e o PUF (Painel Unificador das Favelas) realizaram o curso de pesquisa que resultou no relatório 'Justiça Hídrica e Energética nas Favelas: Levantando Dados, Evidenciando a Desigualdade e Convocando para Ação', que reúne dados inéditos e impactantes sobre água e luz nas favelas.
A RFS ainda capacitou lideranças para a replicação do projeto Teto Verde Favela (Arará) no Centro Comunitário Irmãos Kennedy (Vila Kennedy).
Novo Mapa da Rede Favela Sustentável Torna Visível Proporção das Soluções Socioambientais de Favelas [IMAGENS]
Unidos sob a perspectiva das favelas como fontes de soluções e de sustentabilidade, a Rede Favela Sustentável atualmente conta com 195 integrantes lideranças de 127 favelas fluminenses e 232 aliados técnicos e voluntários de diversas instituições e movimentos.
O novo Mapa da Rede Favela Sustentável acaba de ser lançado com 120 projetos em 183 favelas na Grande Rio, através de uma plataforma mais interativa, com a possibilidade de pesquisa, calculadora e filtros.
É possível, por exemplo, fazer uma busca precisa pelos projetos da RFS liderados por mulheres, com mão de obra 100% voluntária e focado em um Objetivo de Desenvolvimento Sustentável específico, ou um eixo temático específico da RFS, ou que atuaram durante a pandemia.